COITADISMO RACIAL "POLITICAMENTE
CORRETO"
Humberto Ellery*
A Sra. Judy Shalom Nir-Mozes, esposa do Ministro do
Interior de Israel, Sr. Silvan Shalom, postou no Tweeter uma piada com o
Barack Obama.
Indignada com a fraqueza do Presidente dos EUA na
negociação da questão nuclear com o Irã (altamente ameaçadora a Israel), ela
perguntou aos seus seguidores na rede: “Sabem como é o café Obama?” E ela
mesma respondeu: “Preto e fraco”.
Quando a onda de indignação se ergueu contra ela nas
redes sociais, criticando sua “ofensa” ao Presidente Obama, eu pensei cá
comigo: que grande ofensa é essa de chamar um presidente de fraco, quando na
verdade ele o foi de fato, naquela negociação?
Mas, para minha surpresa, o que as pessoas estavam
qualificando como ofensa era chamar um preto de... preto! Na minha
modesta opinião, quem acha que chamar um preto de preto é ofensa, é na
realidade, mais que “politicamente correto”, o grande preconceituoso, por
acreditar que uma quantidade maior de melanina na pele, tornando-a
preta, confere ao afrodescendente uma inferioridade que simplesmente não
existe.
Será que se fossem brancos o Pelé, o Mandela, o
Joaquim Barbosa, o Desmond Tutu, e o próprio Obama, seriam maiores do que
são?
José Humberto Ellery
Engenheiro Químico
Ex-Oficial da Marinha
Brasileira
Membro Honorário da ACLJ
NOTA DO EDITOR:
Primeiramente, sem prejuízo da piada –
e a intenção de mera jocosidade elide a ofensa – do ponto de vista sociológico,
Barack Obama não é “preto”, já que é filho de um preto com uma branca. Tecnicamente,
convencionou-se que são “negros” todos os integrantes da população que não são
brancos. Isso inclui índios e mestiços em geral. “Pretos” seriam apenas aqueles
de pele totalmente escura, detentores de todo o biótipo afro.
Em segundo lugar, quando se pretende que a
afro-descendência não seja um estigma social, e que as pessoas com essa
característica não sofram discriminação maldosa, não se deve considerar ofensa
a mera constatação de que alguém tem a pele escura. Assim, dizer casualmente que
um negro é negro, sem fazer relação causal dessa qualidade com um
vício ou defeito, não configura injúria, nem outro tipo de atentado contra a
honra. A mulher do ministro não insinuou que Obama é fraco porque é preto. Fez apenas coincidir a natural característica cromática da bebida e da pessoa, com a sua eventual característica de ser fraco.
Se, por hipótese, alguém fizesse uma
piada caracterizando o Presidente Putin como sendo claro e amargo como a vodca, será que o
estaria injuriando pela raça? Claro que não. Estaria referindo à sua real cor
de pele, no primeiro adjetivo, e lançando uma crítica à sua conduta política,
no segundo. Por que razão, em se tratando de uma pessoa pública de pele escura,
isso adquire feição de agressividade racista? De fato, a vitimização descabida
de alguém por simples referência à cor de sua pele, isso sim, é racismo mal disfarçado.
Juridicamente, o racismo é penalmente
tipificado de duas formas. Com maior gravidade (quando é constitucionalmente
dito imprescritível e inafiançável), ocorre nos casos de ofensa e discriminação
difusa a determinada etnia como um todo. Por exemplo, alegar, anunciar ou
publicar impedimento de qualquer direito ou conduta lícita a ciganos ou judeus,
a nipo-descendentes ou a negros – ou lhes atribuir coletivamente alguma característica negativa. No segundo caso, quando a ofensa discriminatória
é dirigida a um certo indivíduo, se fundada esta no racismo, o que constitui
circunstância qualificadora do crime de injúria.
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