domingo, 5 de março de 2017

CRÔNICA - O Marxismo e o Jumentinhos (HE)


O MARXISMO
E OS
JUMENTINHOS
Humberto Ellery*


Em 2013 o  Luciano Cavalcante me pediu que contribuísse na elaboração do livro “História Urbana e Imobiliária de Fortaleza – biografia sintética de uma cidade”.

O lançamento do livro fez parte das comemorações dos 30 anos de sua vibrante empresa, bem como de sua vitoriosa carreira de empreendedor. Encomendou a feitura do livro aos brilhantes Lira Neto e Cláudia Albuquerque. Minha contribuição se restringiu a contar a história do surgimento do Bairro Ellery, que vi nascer do sítio em que passei minha infância.

Ontem foi a vez do Juarez Leitão fazer-me a mesma solicitação, uma vez que está a escrever um livro em que fatos importantes ocorreram naquele bairro tão querido.

Saudosista que sou, principalmente de uma infância tão feliz, acordei hoje pensando naquele período em que “eu era feliz e nem sabia”. Lembrei com muito carinho dos jumentinhos que faziam o trabalho pesado do sítio.

Era uma tropa de uns oito ou dez animais, muito bem tratados, inclusive todos eram chamados pelo nome: Meia-noite, Cambota, Camelo, Branquinha, Cambraia...  É comovedora a docilidade, a obediência e a disposição para o trabalho desses “nossos irmãos”.

Mourejavam de sol a sol sem escolher o que fazer. Mansamente cumpriam os afazeres que determinávamos, fosse puxando carroça, carregando enormes cargas de capim, levando latões de água para irrigar as plantações, ou até  servindo de montaria nas nossas brincadeiras de Cowboy.

Nunca reclamavam, jamais percebi em nenhum deles qualquer atitude agressiva. Nós realmente recebíamos de cada qual de acordo com suas capacidades. Em compensação nós retribuíamos a cada qual de acordo com suas necessidades. Recebiam toda a alimentação que precisavam: capim, milho, ração, macaxeira, banana (adoravam bananas). 

Recebiam também vermífugos e atendimento veterinário. Só não tinham mesmo era liberdade. Não podiam escolher o que fazer, nem como fazer, nem onde fazer. Era tudo determinado por nós. Não podiam também sair do sítio para ir onde lhes desse na telha, pois o sítio era cercado. Inclusive, ao fim do dia eram confinados em um cercado para que não fugissem, ou fossem roubados.

Como eu acabei de reler a “Crítica ao Programa de Gotha”, carta que Karl Marx enviou aos camaradas da Social Democracia alemã (publicada por Engels quase oito anos depois da sua morte), a analogia da vida dos jumentinhos com o teor da carta surgiu espontaneamente.

Embora seja apenas uma carta, muito pouco face às cerca de 70 obras, entre livros, teses, cartas que Marx escreveu (um espetacular monumento à estupidez), ouso afirmar que se trata de um dos mais importantes documentos sobre o Marxismo, pois, de toda a sua vasta produção intelectual, nessa carta ele dá a  mais pormenorizada descrição de Comunismo.

Segundo o seu pensar, depois que o Socialismo cumprir a sua missão pela luta de classes, destruídos o Capitalismo e os capitalistas, quando os trabalhadores irão perder seus grilhões, surgirá o alvorecer radioso do Comunismo, onde de cada qual será exigido  segundo sua capacidade, e a cada qual será dado segundo sua necessidade.

Assim como os jumentinhos jamais reclamaram da sua total falta de Liberdade, também o povo não vai precisar dela. Afinal, os comunistas não sentem falta nem da liberdade de pensar, pois pensam todos de forma exatamente igual, naquela velha opinião formada sobre tudo.

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