REAGE RIO,
REFORÇA FORTALEZA
Ciro
Gomes ficou famoso como o governador que fez um rio, enquanto Leonel Brizola se
notabilizou como aquele que destruiu outro – o Rio de Janeiro, cidade que,
aliás, nunca teve rio algum. Trocadilho
infame que o “Ceará Moleque” vem propalando. Bairrismo
de lado, antibrizolismo à parte, fica de tudo uma verdade: desgraçaram a Cidade
Maravilhosa.
Mas
a conta não pode ser debitada somente às excentricidades do método Brizola,
tampouco aos governos dos que o antecederam, muito menos ao que se seguiu ao
dele. A culpa dos padecimentos atuais do Rio de Janeiro é do seu povo como um
todo, do político ao barnabé, do empresário ao favelado, com as honrosas
exceções de praxe.
A
culpa é dos que promovem o jogo e jogam no bicho, contravenção que alimenta o
crime; dos que traficam e usam drogas, pelas quais se mata e se morre; dos que
corrompem e se deixam corromper pelas esquinas, pelos balcões, pelos birôs dos
órgãos públicos.
Grandes
civilizações ruíram – guardadas as proporções – pela exaustão de certas
práticas sociais e pelo esgotamento de convicções ideológicas. O liberalismo caótico
que caracteriza a cultura carioca é a verdadeira causa de todos os seus males.
O
“jeitinho” de tudo resolver com uma boa conversa, que isoladamente pode parecer
simpático, ao se generalizar se torna institucional, corrompe todas as normas e
deturpa as suas finalidades. Ademais, cria espaço para a propina e para o
tráfico de interesses.
É
verdade que os dramas que afetam o Rio de Janeiro são comuns a todas as
capitais brasileiras, e às grandes metrópoles do mundo, porém na capital carioca eles estão
fora de controle. É que os problemas da modernidade encontram um ótimo caldo de
cultura onde nada é mais importante do que praia, samba e futebol. Parece que
as condições geográficas paradisíacas da cidade favorecem a um certo hedonismo,
que induz à descontração e à malandragem.
Senão,
vejamos: um baiano, ou um pernambucano, jamais chutaria um símbolo católico
diante das câmaras de TV; no Piauí ou no Rio Grande do Sul um delinquente
truculento jamais seria transformado em “animal” de estimação. E em nenhum
outro Estado foi tão difícil apurar os votos das últimas eleições quanto no
Rio, pela ação escandalosa de escrutinadores corruptos.

No
entanto, é preciso reforçar a vigilância, evitando que ambições políticas se
misturem com questões de segurança pública. Que o SINDES, criado por Moroni,
seja uma bandeira de luta e não apenas um instrumento eleitoral. Quem pede paz
está sofrendo, e quem precisa reagir está por baixo. Queremos guerra. Guerra
sem trégua a todo tipo de crime, em todos os quadrantes do Estado.
Reginaldo Vasconcelos - JORNAL SCANDALUS - 1996
Reginaldo Vasconcelos - JORNAL SCANDALUS - 1996
NOTA DO EDITOR:
A matéria foi publicada quando a Cidade
do Rio de Janeiro começava a perder o controle sobre o crime organizado, movido
pelo jogo do bicho e pelo tráfico de
drogas, na época principalmente a maconha e a cocaína, envolvendo o
financiamento do seu milionário carnaval.
O Ceará, como o resto do Brasil, ainda
vivendo relativa paz social, começava a receber o influxo sudestino do
banditismo mais pesado – os primeiros crimes de sequestro, os primeiros
assaltos a bancos, a fuga espetacular de presos do Instituto Penal Paulo
Sarasate em Fortaleza, ocorrido em 1994, com o sequestro de autoridades, dentre
elas o Cardeal Aloíso Lorscheider, ação atribuída ao Comando Vermelho, operação
que se repetiria em 1997. Lá no Rio um pastor da Igreja Universal escandalizava o País aos espancar em público uma imagem de Maria.
Na data da publicação Ciro Ferreira
Gomes governava o Ceará, fizera o Canal do Trabalhador, e tinha Moroni Torgan (eleito agora Vice-Prefeito de
Fortaleza) como Secretário de Segurança. Com um discurso vigoroso e ações
espetaculosas, como um desfile de viaturas policiais pela cidade, Moroni trazia
a esperança de barrar a escalada do crime no Estado, por isso mesmo retratado no
traço do cartunista Glauco como o personagem “Ramboroni”, fusão de seu rosto
jovem com o corpo do herói dos filmes de Sylvester Stallone.
O articulista faz uma análise
sociológica severa (e injusta) da cultura carioca, atribuindo-lhe a causa da violência
urbana desvairada, que hoje se disseminou pelo País inteiro, inclusive pelas
cidades interioranas de todos os Estados, que a cada semana são invadidas pelo
cangaço moderno, com ataques bélicos aos batalhões de polícia locais e explosão
de agência bancárias para saquear os caixas eletrônicos.
O Rio de Janeiro, talvez a cidade de
geografia mais bela do Brasil, de povo alegre e receptivo, com o seu sotaque
simpático e o seu espírito jovial, antiga sede da Corte Imperial Brasileira e
primeira Capital da República, sem culpa alguma de seu povo ordeiro, tem de
fato sofrido muito com altíssimos níveis de criminalidade violenta.

Um Marcelo Crivela castigado por um
aspecto envelhecido e doentio, que, aos 59 anos, nem lembra o jovem bispo da Igreja Universal que entrou na política, acaba de ser eleito Prefeito do Rio de
Janeiro, prometendo o milagre da salvação. Que Deus o ajude e proteja.
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