domingo, 27 de setembro de 2020

NOTA ACADÊMICA - Sarau Virtual da ACLJ (27.09.2020)

 SARAU VIRTUAL DA ACLJ
(27.09.2020)

   

A Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) promovia, nas noites de terça-feira, na casa de bebidas finas Embaixada da Cachaça, um poetry slam, consistente em um pequeno sarau de poesias, prosa poética e performances musicais acústicas ao vivo, segundo uma prática que começou nos EUA e se difundiu pelo Planeta.


   
Mas essa rotina cultural saudável foi interrompida pela pandemia de Covid-19, e então o grupo de habitués passou a se reunir virtualmente nas manhãs de domingo, em que acadêmicos, artistas, intelectuais e poetas em geral, frequentadores daquele reduto boêmio e cultural, matam a saudade e mitigam a carência de convívio, mantendo em atividade a ACLJ, apesar do isolamento social obrigatório.




PARTICIPANTES

Estiveram reunidos na conferência virtual deste domingo 16 participantes, entre acadêmicos e convidados. Compareceram, o Jornalista e Advogado Reginaldo Vasconcelos, Agrônomo e Poeta Paulo Ximenes, o Bibliófilo José Augusto Bezerra. 

Também disseram presente o Agente Comercial Dennis Vasconcelos, o Teólogo e Psicoterapeuta Júlio Soares, o Engenheiro e ex-oficial de Marinha Humberto Ellery, o Juiz de Direito Aluísio Gurgel do Amaral Júnior, o Professor, Jurista, Historiógrafo e Cientista Político Rui Martinho Rodrigues, o Jurista, Professor e Procurador Federal Edmar Ribeiro, o Ambientalista e Pré-Candidato a Vereador João Pedro Gurgel,  e a Advogada, Psicanalista e Poetisa Alana Alencar  todos da ACLJ.

Também se deve ressaltar a participação do Representante Comercial e Músico Marcelo Melo, Comendatário da ACLJ, que deliciou o grupo tocando ao violão a canção "Espelho", do compositor Diogo Nogueira.

Os dois convidados especiais da reunião de hoje foram os Buldogues do Sávio Queiroz,  Sra. Meg e Sr. George.  A calopsita do Confrade Arnaldo Santos fez uma aparição rápida, mas ainda mais rapidamente desapareceu de cena.   


TEMA DE ABERTURA

O Presidente Reginaldo Vasconcelos abriu os trabalhos apresentando o livro "Histórias de Gente da Gente", recentemente lançado em Brasília pelo confrade Wilson Ibiapina, que ele dedica aos seus maiores amigos, e que relaciona, um a um: 

"Alan Neto, Fernando César Mesquita, Lúcio Brasileiro, Augusto Borges, Narcélio Limaverde, Sérgio Costa, Ginaldo Souza, Arcélio Mentor, Rodger Rogério, Jeová Lemos Cavalcante, Toninho Drummond, Carlos Henrique de Almeida Santos, Orlando Brito, Airton Rocha, Antonio Henrique Ellery, Guto Benevides, Dulcina Palhano, Edilberto Aleluia, Tarcísio Holanda, Ednilton Soárez,  César Rocha, Reginaldo Vasconcelos, Laerte Rimoli, Manoela e Ricardo Bacelar". 


Nessa saborosa coletânea de crônicas Ibiapina faz referência a este Blog da ACLJ, à ACLJ, à Tenda Árabe, local das reuniões informais da Confraria. E conta casos hilariantes de sua juventude em Fortaleza entre os grandes nomes contemporâneos da música cearense, como na croniqueta abaixo, intitulada "Os Boêmios e o Ceguinho".
 

 OS BOÊMIOS E O CEGUINHO

Foi na década de 60 do século passado. Ainda estudantes, Fausto Nilo, Rodger Rogério e Antonio Carlos Coelho voltavam a pé de uma farra nos Bar do Anísio, na Beira Mar de Fortaleza. O dia estava amanhecendo quando chegaram à Praça José de Alencar, terminal de ônibus no Centro da Cidade.

O sol já tinindo, gente fervilhando, bares começando a receber os primeiros fregueses. Os três são acometidos de uma vontade louca de tomar uma geladinha. Sem dinheiro, surge a ideia quando encontram na esquina um ceguinho pedindo esmola. Viola no braço, chapéu  no chão, mas ninguém ajudava. Pedem licença ao pedinte e assumem.

Era um domingo de manhã. Rodger acompanhava no violão, o Fausto cantava e o Antonio Carlos passava o chapéu. Em pouco tempo, a grana começava a sobrar pelas bordas. Tiraram o da cerveja, devolveram o chapéu. 

Quando o ceguinho passou a mão e sentiu o volume do apurado não se conteve. Abriu um sorriso e, antes de agradecer, perguntou: "Pessoal, quando é que vocês voltam por aqui?".

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ASSUNTOS ABORDADOS

Na sequência, eleito o tema da filologia, Ellery protestou contra a aplicação do termo "pedofilia" para designar os doentes que têm atração sexual por crianças, frisando que o termo adequado, do ponto de vista etimológico, deveria ser "pederastia". 

Também pontuou que a expressão "Oriente Médio" seria equivocada, porque, segundo entende, só se tem o "Extremo Oriente", reino dos povos de ascendência mongol,  e o "Oriente Próximo", em que se incluem os povos árabes e semitas em geral. 

José Augusto Bezerra comentou que as línguas são dinâmicas, e que de forma inelutável sofrem alterações, a partir da oralidade popular, e comentou a sua velha amizade com o grande dicionarista Aurélio Buarque de Holanda. 

Rui Martinho Rodrigues, concordando com a inexorabilidade da evolução semântica das palavras, abordou a necessidade de que se ponham freios a essas mudanças gramaticais, para evitar o que aconteceu ao latim, que veio sofrendo tamanhas deturpações que gerou uma série de idiomas diversos, configurando o mito da Torre de Babel.

Reginaldo Vasconcelos considerou a questão da sinonímia, mostrando que as várias palavras que designam uma mesma coisa, ou um mesmo fato, costumam ter os sentidos etimológicos mais diversos. 

Exemplificou com a palavra "prostituta", que significa aquela que se "prostrou" socialmente, enquanto o sinônimo "meretriz" tem referência ao fato de que elas prestam um serviço remunerado (meritu), e o termo "puta", que originalmente significava "menina", remete à juventude que se presume necessária à mercantilização sexual.

A propósito disso, Sávio Queiroz, que é colecionador de obras de arte e  marchand, exemplificou com a obra "Puto Musicante", pintura de  Rosso Fiorentino, de 1521. Sávio pontuou que se trata de uma das joias da "Galeria dos Ofícios" de Florença, em que para entrar se precisa calçar pantufas macias, pois todo o prédio é considerado obra de arte. Esclareceu ainda que "Rosso Fiorentino" (Ruivo Florentino), era o agnome do pintor Giovanni Battista de Jacopo. Abaixo, a belíssima pintura.
 


PERFORMANCES LITERÁRIAS

No campo das manifestações líricas, Júlio Soares leu uma carta de amor de Olavo Bilac a sua Amélia, Reginaldo a sua croniqueta intitulada "Berrante", e Edmar Ribeiro leu o belíssimo "Poema Para Minha Noiva", do jornalista Durval Aires, que foi publicado no primeiro número do Jornal O Clã, editado em 1948.

Por fim, João Pedro Gurgel suscitou o tema da senciência dos animais, que teriam sentimentos e precisariam ser tratados com amor e respeito, defendendo ainda a castração em massa de cães e de gatos socialmente rejeitados, de forma humanitária, "para que não  transmitam a nenhuma criatura o legado da sua miséria". 

Dentre muitas considerações que foram levantadas a respeito, Paulo Ximenes deixou no ar o questionamento sobre a razão pela qual as atenções caridosas são concentradas sobre cães e gatos, e não sobre outros bichos, como os peixes, por exemplo. 

Reginaldo Vasconcelos trouxe a tese de que a devoção dos animais domesticados aos seus amos humanos acontece porque, em relação a essas específicas pessoas, eles não amadurecem sexualmente, e por conseguinte não desenvolvem contra elas a natural agressividade competitiva, comportando-se eternamente com instinto infantil e filial. 

Afirmou que os cães seriam os únicos animais que olham nos olhos das pessoas, ao que Alana obtemperou que o seu gato Leonardo também tem essa faculdade. Sim, os gatos e os cavalos, pelo menos, fitam o rosto das pessoa. 

Mas a afirmação do confrade é de que somente os cães fitam os seus olhos diretamente, "olhos nos olhos", como a pretender lhes transmitir o seu sentimento ou o seu apelo, e, mais do que isso, como querendo ler o pensamento de quem o defronta. 

Os debates trouxeram à baila os tipos de amor, segundo os gregos antigos: o amor filos, dedicados aos amigos; o amor eros, nutrido romanticamente pelos casais; o amor ágape, manifestado pelas coisas abstratas; o amor storgê, sentido pelos membros da família.    

DEDICATÓRIA

A sessão virtual da ACLJ realizada neste domingo, dia 27 de setembro, foi dedicada ao confrade Wilson Ibiapina, jornalista veterano, um dos mais ilustres homens de imprensa cearenses,  que teve a delicadeza de prestigiar a nossa confraria, de que ele é Membro Titular, em seu recente livro de crônicas. 

Nas imagens, Wilson Ibiapina em sua posse, com as netas; na Embaixada da Cachaça e na Tenda Árabe; na Sereia de Ouro de 2019, com sua Edilma e com Reginaldo Vasconcelos. 










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