sábado, 1 de fevereiro de 2020

CRÔNICA - Anuviou (ES)


ANUVIOU
Edmar Santos*


Os números digitais no relógio brilhavam no escuro: marcavam seis horas da manhã. O sol estava com preguiça e a cortina de nuvens cinza grafite parecia estender a madrugada.

Estalinhos das gotículas de água da chuva faziam seus batuques chiadores no telhado; a bica que jorrava água fazia meu cérebro me lembrar de que tenho bexiga e de que essa estava já cheia. Fui forçado a sair da cama e esvazia-la.

Abri a porta que dá para o pequeno quintal; o cheiro de tudo molhado me fez espirrar. Olhei para o céu e ele era aquela tela dark úmida, esperando ser borrado de outras cores, luzes. Voltei para a cama porque estava em dia de folga e, aquele visual de filme dramático me incentivou a apreciar um pouco mais de preguiça no colchão.

Ouvi minha mulher, que já estava na cozinha, que havia tido vontade de tomar um café quente. Também fiquei com essa vontade, no entanto, preferi esperar que ela o fizesse – por vezes sou eu quem o faz. Depois de sentir o aroma da cafeína tomando conta do corredor que dá para meu quarto, levantei e fui apreciar aquela bebida matinal.

Após o saboroso desjejum, ela carinhosamente ordenou que eu me aprontasse para levá-la ao trabalho e deixar nosso filho na escola. Como de costume, a minha obediência não lhe faltou, por mais que no outro ouvido outra voz dissesse: “Volta pra cama!”.

Segui a rotina do dia. O céu continuava ainda com cara de zanga: resmungava por trovões, piscava por relâmpagos e espirrava por chuva.


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