sábado, 17 de março de 2018

ARTIGO - Vida e Esperança (ES)


VIDA E ESPERANÇA
Edmar Santos*


O amanhã surgirá como o hoje veio e o ontem se foi!

Do ontem guardamos lembranças, algumas boas outras nem tanto; no hoje construímos algo, destruímos alguns feitos, deixamos afazeres para depois, por motivos diversos e quaisquer.

Quando crianças, vivemos pelas grandezas dos adultos – o famoso narcisismo paterno – enquanto adultos, esquecemos de quão importante era a criança que vivia em nós e que deixamos por lá, pelo passado. 

Agora cuidamos de crianças, em nos tornando pais, procurando oferecer-lhes o que nossos pais não conseguiram nos dar, materialmente falando. Não percebemos que nossos velhos pais nos deixaram o de mais concreto bem da vida: seus ensinamentos, cuidados e carinhos. O amor tornou-se nostalgia.

Se para nossos pais o amanhã vem sempre trazendo consigo a velhice do corpo, a lentidão dos reflexos, a experiência dos anos vividos, para nós o desabrochar das experiências boas e más que eles igualmente viveram.

O tempo passa! Em vida, a segunda certeza que temos; posto ser a morte a primeira, nos perguntamos a todo o tempo se estamos de fato vivendo uma vida que valha a pena! O que fizemos no passado que possa ser comemorado no agora? O que de bom estamos construindo neste tempo para os que virão depois? E quando o futuro nos chegar, e velhos estivermos, com o que nos depararemos construídos por nossas mãos e vontades? Refletir é prudente!

Diante disso cabe arrepender-nos? Sim; precisamos nos arrepender como quem desmatou densa floresta e que depois, tomando consciência de sua drástica atitude predatória, reflorestou tudo de novo e viu ressurgirem as fontes d’água em meio a verdejante arvoredo. Reconhecer o erro e corrigi-lo é honroso!

Reconstruirmos? Claro; podemos reconstruir as coisas boas que deixamos desgastar: as amizades, os passeios nas praças, os bate-papos nas calçadas, e tantas outras vicissitudes singelas que se agigantavam em nossas relações sociais. Só que agora, sem a pressa do cotidiano, nem a impessoalidade das novas redes relacionais. Devemos resistir ao desgaste, como a montanha luta com o vento!

Manter a esperança? Imprescindível; a manutenção da boa esperança de que o humano que somos tem no espírito que nos preenche a magnitude de poder refazer-se dos mais trágicos episódios vivenciados.  Um abraço sincero pode aliviar angústia. Diz a música: “O melhor lugar do mundo é dento de um abraço!"


COMENTÁRIO

Parece até que eu e o diplomata dr. Márcio Catunda, que estamos escrevendo um livro com sonetos decassilábicos portugueses, adivinhamos, em parte, o que pretendia exprimir o Dr. Edmar nesse seu verdadeiro, belissimamente literário e virtuoso texto. Veja e compare.


PRUDÊNCIA
 V.M. (quartetos) e M.C. (tercetos)


Na inteireza da minha senescência,
Já terminei de armazenar enganos.
Guardo na mais esconsa advertência
A irrealização de certos planos.

Nesta quadra vital, tomo tenência
De, doravante, não me tornar lhano
Aos pruridos joviais da incontinência
Conducentes à nau dos desenganos.

Excessos não cometo, por prudência,
Pois é o corpo acusador libelo
A instalar seu "locus" na consciência.

Mas inda sei admirar o belo
E me não cansa demandar a ciência,
Se por estas virtudes de revelo.

Vianney Mesquita

Um comentário:

  1. Dr. Edmar
    Parece até que eu e o diplomata dr. Márcio Catunda, que estamos escrevendo um livro com sonetos decassilábicos portugueses, adivinhamos, em parte, o que pretendia exprimir nesse seu verdadeiro, belissimamente literário e virtuoso texto.
    Veja e compare.

    PRUDÊNCIA
    V.M. (quartetos) e M.C. (tercetos)

    Na inteireza da minha senescência,
    Já terminei de armazenar enganos.
    Guardo na mais esconsa advertência
    A irrealização de certos planos.

    Nesta quadra vital, tomo tenência
    De, doravante, não me tornar lhano
    Aos pruridos joviais da incontinência
    Conducentes à nau dos desenganos.

    Excessos não cometo, por prudência,
    Pois é o corpo acusador libelo
    A instalar seu "locus" na consciência.

    Mas inda sei admirar o belo
    E me não cansa demandar a ciência,
    Se por estas virtudes de revelo.

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