UMA
PÓS-MODERNIDADE
TROPICAL
Rui Martinho Rodrigues*
A pós-modernidade se caracteriza pelo relativismo cognitivo e
axiológico, a instabilidade e até ausência de referências, o ecletismo
sincrético, o multiculturalismo diferencialista e a ênfase no particularismo em
razão da recusa dos universais, na forma de recusa de grandes narrativas
teóricas, podendo, paradoxalmente, manter velhas e amplas categorias de larga
abrangência, herdadas das aludidas narrativas.
A negação da razão, tendo como
arrimo a crítica ao indutivismo e até ao dedutivismo, sendo, conforme a
ocasião, empirista ou racionalista, deixa a força como único instrumento de
solução de litígios. Não é só por influência das redes sociais, da
transparência do mundo decorrente da presença universal de câmaras e de
registros eletrônicos indeléveis, que a violência e o acirramento de ânimos
estão em alta. É também pelo relativismo cognitivo e axiológico da
pós-modernidade.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaOrXhyphenhyphenbuUAtGFNP3YxC4qKEtvzLfH3sdIatLBZ01IEiiMo7-iTXcjHUrs60OA7y0QEHhNgB6LYR8M41GImUTpk8AlZiqClRA5C677vhUTEs-6twkJtvhv3cbWdLAQqjXecmP1M6Yih1nU/s200/BAUMAN.jpg)
Caso, porém, se chame Lula, Berardo Cabral, Guido Mântega, Jacques
Wagner, Gleisi Hoffmann, Erenice Guerra, ou Dilma Rousseff, já podemos modificar o
entendimento, evitando a prisão antes do trânsito em julgado e adiando a denúncia
para quando houver provas incontestáveis da materialidade e da autoria do crime.
Tolerância deve ser proclamada como virtude, mas quando surgir um
conservador ou um liberal a conversa é outra. Pluralismo, paz e amor são
valores, mas a “ira santa”, intolerância e a “indignação cívica” são virtudes
“politicamente corretas” quando se trate de valoração diferente dos
comportamentos ou modelos políticos. Invocamos a lei para todos, mas se temos
um líder que é um grande ícone nas eleições, então devemos colocá-lo acima da
lei, de preferência apresentando-o como vítima de perseguição. Afinal, não existe
verdade, mas perspectiva. Chegamos assim àquilo que alguns chamam de “ética
situacional”, não importa que isso não seja ética nenhuma.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVeAJsJwRH-Z11Yi3gS_0mBVE4vrWQ0_zbseWIh5rrrP9kqcbQG5J1tfWPoAZbS2pQGiCYRbWryJK-pAX_6Kg6Ysukphz3X-1iOWdZh4ik27s1RtVEO2trrlPCS5SiG_wQvMDhyphenhyphenRj17lcZ/s200/POPER.jpg)
Depois de tudo isso ainda podemos nos queixar de violência, desde
que ela não proceda do lumpemproletariado, nem da pequena burguesia
revolucionária. Em caso de necessidade podemos invocar a Física quântica ou a
relativista, como podemos falar javanês se algum troglodita atravessar o nosso
caminho.
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