quarta-feira, 14 de março de 2018

ARTIGO - Escrita & Modismo (AM)



ESCRITA & MODISMO
Assis Martins*



É realmente maravilhoso, nos seus distintos estádios, o desenvolvimento da comunicação humana por intermédio da escrita. Muito interessante é o fenômeno atual que se estabelece na escrita do dia a dia nas telas dos computadores e afins: o Internetês!

Façamos uma pequena introdução a essa saga através dos séculos, e, sem pretensão de esmiuçar o assunto, apenas como curiosidade sobre essa linguagem virtual esdrúxula, usada, notadamente, pelos jovens.

O homem primitivo utilizava sinais e gestos para se comunicar com os seus semelhantes numa linguagem conduzida pela emoção. Quando as relações entre os grupos foram ficando cada vez mais complexas, cresceu também a sua capacidade de relacionar coisas e fatos: era o início do desenvolvimento do  raciocínio dedutivo.

A comunicação entre grupos humanos, à medida que gradativamente ganhava novos símbolos e se desenvolvia, ensejava, pari passu, um aumento na sua capacidade de fazer ligações entre coisas materiais e os diversos estados psíquicos -  como a tristeza, o medo, a alegria etc.

Os estudiosos, até hoje, não conseguiram explicar como se deu o desenvolvimento da escrita ao correr dos séculos. Sabe-se é que, antes do aparecimento do papel, o homem utilizou em vários estádios o material disponível na natureza para sua comunicação: a pedra (a primeira lei dos Hebreus no Monte Sinai), o mármore (túmulos, placas); a argila e o metal. Do reino vegetal, recorreu ao papiro, ao passo que, do reino animal, louvou-se no pergaminho.

Longuíssimo decurso se deu, até que surgiu a Internet, desenvolvida em 1969, na época da guerra fria para comunicação entre bases militares estadunidenses e, graças aos avanços tecnológicos, se tornou, em 1995, esse importante meio para diversão, interatividade e comunicação em escala mundial.

Com o desenvolvimento das diversas plataformas no meio virtual (Facebook, Twitter, Instagram e outras), foi-se estabelecendo uma escrita-padrão, cujas características são o descarte das regras de acentuação, o desprezo às normas gramaticais e o uso de termos que se aproximam da fala.

Essa linguagem bizarra no meio on-line é bem característica do espírito rebelde da juventude, cada vez mais descolada, e tem um formato peculiar que leva a uma enturmação das comunidades virtuais que têm interesses comuns. Como é um meio onde o estímulo visual predomina, as emoções – amor, raiva, amizade e outras – são representadas pelos emoticons (pequenos desenhos) e os bate-papos são animados por bichinhos e palavras piscantes (gifs).

Há uma relação muito grande de palavras abreviadas já consagradas pelo uso, algumas mais corriqueiras como Add: adicionar; Amg: amigo; Amr: amor; Bjs: beijos; Pq: porque; Qdo: quando etc.

É claro que não podemos esperar que a juventude, inquieta e antenada, com o dinamismo natural da idade e a velocidade das mudanças tecnológicas, se comunique por meio das redes sociais com o estilo empolado da norma exigida pela gramática. Seria esquisito ler diálogos neste teor: “...prezado amigo, sugiro que adiemos sine die nosso encontro” ou “...saibas que será de bom alvitre uma conversa amistosa para...”. Em suma, quanto mais a tecnologia avançar e mais usuários acessarem a internet, mais esse dialeto será consolidado.

Séria discussão está sendo configurada nos meios acadêmicos com relação ao futuro da nossa língua. Alguns são contra, baseados no argumento de que há uma grave ameaça ao idioma pátrio com a abreviação de vocábulos, inserção de estrangeirismos, o que configuraria o surgimento de uma gramática particular; afirmam também que a falta paulatina do contato com os livros pode ser um péssimo legado para as gerações futuras.

Outra corrente de pensamento pondera que um conjunto de palavras sem nexo, regras de sintaxe, semântica e pontuação não pode criar e estabelecer uma gramática-padrão; ademais, o desenvolvimento tecnológico cada vez mais acelerado, enseja o aparecimento de novos termos, num processo que continua ad infinitum.

Sem tomar partido nesse debate, podemos observar que os jovens não são tão alienados como alguns pensam. Muitos, mesmo sendo usuários frequentes das redes sociais, hashtags, chats e outras ferramentas, vivem estudando as regras gramaticais, tanto para usá-las em concursos, como no ambiente formal das suas futuras profissões.

Um conselho sensato ao jovem é que curta da maneira mais agradável como lhe aprouver o contato virtual com as suas galeras, mas não se descuide do modo correto do idioma pátrio, mesmo com a chatice das regras, com as ciladas da pontuação, da semântica, da sintaxe e as rasteiras da nova nomenclatura.

Vá para as balada, aproveite a vida e olho muito vivo: se for redigir, não beba!


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