CÃES
E HELICÓPTEROS
(NOVELA PSICOLOGISTA DE BASE REAL)
Reginaldo Vasconcelos
(NOVELA PSICOLOGISTA DE BASE REAL)
Reginaldo Vasconcelos
Capítulo
I
Em Lucas o sol
mergulha entre montanhas pelas cinco da tarde, banhando o casario em leve
sombra, esbatida pelo espelho convexo do céu, de um azul turvado em cinza,
invadido por reflexos de topázio.
Lisberte tinha pressa naquela tarde,
pois marcara com os amigos no Clube Luquence, para combinar passeio longo que
fariam no domingo. Pressa não era comum àquele seu jeito fleumático de menina
rica, bem conformada de beleza e contida de hábitos, a quem tudo vinha à mão a
cada pensamento, ao menor desejo; principalmente estando em férias na
província, a meiga cidade nordestina onde brotara a família, que vive agora sob
as frondes das empresas de seu pai.
Era mesmo muito
calma no agir e no falar, de tal sorte que já virara gozação na roda íntima,
entre os colegas da faculdade, o seu hábito de ser impontual, atribuído quase
sempre à vaidade com os cabelos ruivos, os olhos de mel, a pele alvíssima, que
a deteria ante o espelho.
Naquela sexta-feira Lisberte queria
antecipar-se à hora marcada, pois na noite anterior conhecera figurinha
interessante, um rapaz convidado de seus primos, que ela não queria deixar
exposto aos encantos de Fernanda, a mais volumosa e atirada das amigas, que também estava em férias na cidade. Dormira toda a tarde e agora dirigia o
automóvel pela Rua Grande, saindo do calçamento da cidade em direção ao campo
de pouso, para atingir o clube, que lhe fica um pouco além. Ao passar pelo
bueiro do riacho, sentiu o cheiro úmido do córrego, do pasto ribeirinho,
ligeiramente almiscarado pelo limo e pelo humo marginais.

(Continua na próxima sexta-feira)
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