sexta-feira, 8 de julho de 2016

CRÔNICA - Carteiras Escolares (TL)


CARTEIRAS ESCOLARES
Totonho Laprovítera*



Lembro demais das carteiras escolares do Colégio Christus, onde me alfabetizei e cursei o primário. De madeira escura e encerada, cada uma delas acomodava um par de estudantes. 

Com uma leve inclinação, o seu tampo possuía uma fenda para o repouso de lápis, e dois recortes circulares para encaixe dos tinteiros, que no meu tempo não tinham serventia, pois as canetas já eram esferográficas. Abaixo do tampo, existia uma espécie de prateleira, para guardarmos livros e cadernos. O assento era composto de réguas espaçadas e o encosto, a 90 graus, formado por uma única e larga peça.

Curiosamente, quando nos movíamos com maior intensidade, a carteira deslizava pelo chão da sala de aula, desalinhando todo o seu conjunto.

A despeito das proibições e intimidações de severos castigos, quase todo mundo registrava seu nome na madeira, talvez para marcar sua existência, ou mesmo espantar o enfado das monótonas lições. Ora, ninguém gostava de estar recolhido em uma sala, quando lá fora o sol convidava todos para atividades mais simpáticas à infância que cópias, tabuadas ou ditados.

Daí, era esperar a Dona Núbia, com a sineta à mão, bater a hora do recreio ou do final do dia de aula. 

Ah, ia me esquecendo, em uma outra oportunidade eu contarei sobre os ônibus do colégio, que tinham como um dos motoristas o Seu Domingos, também técnico de futebol da gente.


COMENTÁRIO:

Maravilhosas as memórias trazidas pelo Totonho, nesse gostoso texto. No Instituto São Pedro, pequeno colégio na Praia de Iracema em que estudei, as  carteiras eram semelhantes às fielmente descritas pelo nobre confrade.

Como estudava no turno da tarde, era comum encontrarmos, na prateleira abaixo do tampo principal, objetos esquecidos pelos alunos da manhã, assim como eles certamente encontravam o que havíamos esquecido na tarde anterior. E havia sempre a expectativa diária de achar algo.

Os mais honestos e probos para entregar o achado à direção da escola, e assim auferir algum prestígio, enquanto que os menos dados à honestidade intentavam apoderar-se de alguma “valiosa” res nullius ou derelicta.

Adriano Vasconcelos

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