quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

ARTIGO - Regalos de Alana Girão Alencar (VM)

 Regalos de Alana Girão Alencar
CONTINENTE E CONTEÚDO
Vianney Mesquita [1]

 

O sábio não entesoura. Quanto mais dá aos outros, tanto           mais ele tem [Lao-Tsé ou “Velho Mestre”. Filósofo chinês 531 a.t.p.  [2].

  


Hospedar uma dádiva proveniente de uma pessoa com as proporções humanas e intelectuais da polígrafa coestaduana Alana Girão de Alencar não conforma algo ordinário, como se fora, v.g., uma lembrança de aniversário, presente em visita ao domicílio, estreme recordação física de um colega adepto profissional e tantas e repetitivas e cediças e espontâneas [3] ações semelhadas. 

Equipara-se – isto sim – a uma notícia de aprovação em certame público – como, num exemplo, para o curso de Medicina da UFC – a uma mensagem da Caixa Econômica cientificando acerca do benefício de um prêmio lotérico, ao aviso de crédito em conta de um precatório (ora correndo tanto perigo!), à certeza de que é boato a informação de haver nascido na mesma Áustria outro Adolfo Hitler, à confirmação de que Jorge Mario Bergoglio vem tomar com você um golpe de café em sua casa e lhe entregar um prefácio por ele feito para um livro seu, o qual circulará por todo o orbe cristão... et tot alia.        

Acolher como presente estas Metáforas de uma Análise, a mim trazido à porta de casa pelo filósofo, poeta e seu marido, Dr. Júlio César Martins Soares – também autor de alteados comentos na quarta-capa do livro – configura satisfação inusitada, porquanto não me acho credor de tamanha mercê, pelo fato de jamais haver logrado o provimento de poeta, isto é, aquele que, a igual ou quase semelhantemente a Alana, oferece encantadores versos brancos, sem a  obrigatoriedade da rima, para capturar o leitor com a volúpia, a habilidade reflexiva, a apropriação verbal arguta e oportuna e o gozo espiritual do seu fascínio de versejadora a mancheias.

Malgrado, vez por outra, eu cometa a grade do soneto, somente preenchendo os claros dos tabiques com as rimas (o que a mim me parece trivial), não me devo conceber como um vate dignitário desse nome, pois será imprescindível trabalhar com a alvura das estâncias, sem consoar palavras, alcançando, entretanto, as delícias do pensamento e a estesia da vida por intermédio da manifestação em língua-prosa-poemada, ao recorrer ao exercício figurado dos distintos tropos literários, de vocábulos e locuções, à maneira como procede a produtora sob glosa, para atulhar de encantamento esse mais recente produto de sua agricultura plena marcam. 

Impressionou-me, no primo instante, o continente físico, cujos autores – vários – estão indicados na Ficha Técnica da Gráfica e Editora Tiprogresso, coincidentemente, oficina que tipografou, sob a diligência do Dr. Luís Esteves, meu primeiro trabalho editorial mais extenso – Sobre Livros – Aspectos da Editoração Acadêmica (Fortaleza/Brasília: Edições Universidade Federal do Ceará/PROED-MEC, 1984, 184 páginas). 

Ao começar do embrulho – unidade de ideia ora em descostume, à qual recorro somente a jeito de evocação pueril – já divisei poesia, pois primorosa a técnica utilizada para revestir o volume, colado nas divisas do papel com o monograma “A” em parafina colorida, fato veramente significativo e promissor do que viria a ser, após desenrodilhada, a peça editorial.  

Mais um poema – isto é, tanto continente como conteúdo – é entrevisto na capa dura, dotada de admirável propósito gráfico (metaforizando as análises da Autora), adornada com as notações lúcidas e perfilhadas de profundez literofilosófica e histórica do Dr. Júlio César, às quais acedo na totalidade, de sorte que as firmaria como gravadas estão. Aqui, decerto, porque foi projetada a cobertura da obra em papelão espesso, conferindo-lhe mais durabilidade, seria difícil, operacionalmente, usar guarnições (orelhas), de modo que os escólios foram esmerada e corretamente transferidos para a quarta capa. 

Também me ative às fontes da antiga máquina de datilografia, com as letras muita vez borradas, a qual, empós transitar em curso por anos a fio, foi sobrepujada e expulsa, num átimo, pelos relampos [4] da Informática e o brilho da internet, mas aqui alvitrada, inteligentemente, pelos técnicos do trabalho sob relação, propósito a conceder, pelo menos para mim, um motivo a mais para adornar-lhe o continente e o conteúdo. 

Relativamente ao teor da matéria, para se jungir à designação dessas despresumidas e rarefeitas notas, relativamente ao conteúdo, rogo escusa junto ao leitor, ao explicar que, via de regra, não me afaço a adentrar comentários de tal dimensão. Isto porque, se analisar, no plano do detalhamento, cada poema, dele retiro o apéritif dexième plat de sua refeição poética, uma vez que lhe subtraio a ensancha de, por si mesmo, decodificar as intenções da Poetisa [5], quando emprega os vários expedientes da língua portuguesa e aplica os suntuosos conhecimentos que ajuntou à proporção do tempo, na qualidade de intelectual convenientemente aparelhada, nomeadamente na seara da Psicologia, para aportar à limpidez estética e à significação racional de seus poemas. 

Impende exprimir, no entanto, o fato de que li, em profundidade, as peças deste compêndio (algumas mais de uma vez), daí por que se lobrigam, em não raros lances, decodificações distintas após as leituras, até passíveis do entendimento transverso ao da própria Autora, de tal sorte que a opinião escrita e publicada não há de influenciar a recepção das mensagens por parte dos demais consulentes.

Manifesto, entretanto – e isto, penso, em nada confunde o consultante quando for recepcionar os pés poéticos insertos nesta produção – o juízo segundo o qual os versos níveos de Metáforas de uma Análise conformam a maquinação de formosura, aviamento intelectual e ardor inventivo de uma substância humana tão alevantada, posicionada como escritora de erguida axiologia poética, uma das mais bem postas do Brasil e que conduz a se rememorar a brandura e a sinfonia de autoras de paixão internacional, como, entre tantas, Cecília Meireles, Gabriela Mistral, Giselda Medeiros, Neide Azevedo Lopes, Rosalía de Castro e Florbela Espanca. 

Assim, me enxerguei em elevação e sublimidade, ao ler este rebento novo, para mim, a obra magna da escritora cearense Alana Girão de Alencar. 

O immensa gratia!

 

         

Notas

1 Professor adjunto IV da Universidade Federal do Ceara´. Escritor (21 livros) e jornalista. Imortal da Academia Cearense da Língua Portuguesa, Academia Cearense de Literatura e Jornalismo e Arcádia Nova Palmaciana. Pertence à Associação Internacional de Jornalistas (Bruxelas – UE) e à Associação Brasileira de Imprensa.

2 a.t.p. – Pelo fato de a cultura e a ciência serem leigas, é recomendado não mais se usar a.de C. a.t.p. = antes do tempo presente. Católico praticante como sou, não fico satisfeito com isso...

3 Muito me apraz usar esta figura de linguagem-construção, chamada polissíndeto – uso repetido de conjunções aditivas.

4 Palavra dicionarizada. Usar sem receio.

5 Somente emprego vocábulos registrados no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Não existe poeta mulher.

 

      

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