segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

CRÔNICA - Manoel, Hector e Muitos Outros... (TSC)

 MANOEL,
 HECTOR E
MUITOS OUTROS...
Tales de Sá Cavalcante* 

 

A vida do Manoel Lima poderia gerar um livro.  De bem com a vida, tinha pouca escolaridade e muita inteligência. Suas “tiradas” seriam momento hilariantes do sonhado livro. Trabalhava para a nossa família como caseiro na Prainha do Canto Verde, no Litoral de Beberibe (Ce). 

De certa feita, direi as cédulas do bolso e, a cada serviço necessário, entregava-lhe a respectiva importância, bem como o seu salário. Quando observei que todas tinham se ido, pilheriei: 

– E agora, Manoel? O dinheiro acabou. 

Imediatamente veio o seu comentário: 

– Não, Doutor. Assim que chegar à Fortaleza o Senhor pega outro bolinho de dinheiro. 

Ao saber do seu ingresso numa nova seita, provoquei-o a testar sua fé e disciplina: 

– Manoel, será que, na hora do dízimo, se você der menos que o estabelecido, Deus vai notar? 

E veio a rápida resposta: 

– Deus está ouvindo a nossa conversa. 

Manel, como era chamado, gostava de tomar “umas”. Após separar-se da mulher, passou a tomar também “outras”. E “outras”. Em certo dia, ouvi do fiel caseiro:

– Deixei de beber. 

– Por quê? – indaguei – ao que ele respondeu: 

– Quando a gente bebe, a grana não dá. 

Depois de algum tempo, encontrei-o “mais pra lá do que pra cá”. Perguntei-lhe o porquê da volta à bebida e ouvi: “Cheguei à conclusão de que, se eu beber ou não a grana não dá”. 

Uma vez, a prosa ficou triste. Deu-se ao lhe arguir se havia passado fome na infância. Ao ouvir um forte “sim”, inquiri: 

– E o que você fez? 

Mais forte ainda ouvi: 

– Nada. 

Relembrei esse diálogo ao me emocionar com o tocante cartão de natal do “guri” Hector, meu conterrâneo, por ser do Rio Grande do Sul, terra de minha mulher Jaqueline. Ele não pediu brinquedos ao Papai Noel, senão carne para passar o natal com a família.

O Ceará também tem seus “Hectors sem carne” e seus “sem-tudo”. Com uma riqueza inferior ao do Rio Grande do Sul, estamos num crescendo ao contrário deles. É que, há muito tempo, somos felizes em escolher bons gestores públicos, o que não ocorreu por lá, na maioria das últimas eleições. Vem aí 2022. O Ceará, que já é modelo na educação pública e privada, pode igualmente sê-lo na votação.

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