sexta-feira, 6 de agosto de 2021

CRÔNICA - Ser Pai (RV)

SER PAI 
Reginaldo Vasconcelos*



Nem todo homem tem a fibra de uma amansador de cavalos. Tampouco o gênio aveludado dos cavalos, docemente másculo, ou, por outra, rudemente fêmeo. Os meninos costumam esperar de seus pais todo o heroísmo e toda pujança.  

Não são todos heróis. Nem os heróis o são de fato, quando por detrás do gesto grande está o nanismo que o moveu, a miudez do medo ou do ódio. Mas, qualquer um pode ser magnânimo, e garimpar as almas à cata da virtude. Qualquer um pode ser bom. Ser como o suave licor que aquece o coração do aflito, alegra o do triste, anima o do apático. Qualquer um pode ser pai.

Nem todos os pais sabem ser pais. Não é fácil sê-lo, e prestar um amor sem misturas, sem a idiossincrasia do tempo,  sem a mesquinhez dos costumes. Um pai deve ter a grandeza dos astros, para relevar todos os pequenos desgostos. A pequenez das estrelas; sobranceiras, prestantes e guias. E não se postar no caminho como as pedras obstantes. Render ideias maduras sem jamais se opor aos fatos, como um estorvo da felicidade filial. 

Não foi o amor dos filhos, mas o mercantilismo semítico que instituiu o dia dos pais. Porém, uma inspiração gentil. Felicitações aos pais. Não pelos filhos que fizeram parir. Felicitações aos que sabem ser pais, sentinelas avançadas da felicidade progênita.


Tribuna do Ceará (1981) – Traços da Memória-Laços da Província (1992)



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