quinta-feira, 19 de agosto de 2021

CRÔNICA - Pero que Las Hay, Las Hay.

 PERO QUE LAS HAY, LAS HAY
Reginaldo Vasconcelos* 

 

Eu sei que não há comprovação científica de que o mundo etéreo exista – seja o Nirvana dos budas, seja o Éden dos santos, seja o Umbral kardequiano. 

Tampouco que haja o purgatório cristão; ou que a grande roda do carma esteja em curso; ou que a justiça abraâmica se imponha no final. Ou que espere os justos a tenda mulçumana de Alá, no seu jardim com o harém das doze virgens; ou a oca solar de Tupã; ou o  canaãnico paraíso dos cristãos. 

Querem os cientificistas que a existência de tudo se deva a coincidências aleatórias da matéria, em todo o plano cósmico – inclusive a existência da pessoa, sem prejuízo da sua imaterial complexidade. 

Todavia, coincidências especiais ganham foros estranhos e transcendentais, parecendo mensagens exotéricas de difícil explicação científica, fenomenologia que desafia a lei das probabilidades matemáticas. 

Duas irmãs vão a uma praia distante com a família, manhã de domingo – ambas católicas, de ascendência africana parcial, mas muito próxima. Uma delas está aniversariando. Estão sentadas no raso da maré. 

Vem à lembrança da aniversariante que aquele 15 de agosto também é consagrado a Iemanjá, a rainha das águas, segundo cultos africanos. 

A outra registra o fato de que quase não se comemora mais a data, quando antigamente se mobilizavam os frequentadores dos terreiros de macumba da cidade, em demanda ao litoral urbano, para fazer os seus louvores. 

Rememoram que, no passado, realmente grupos de devotos do candomblé iam às areias da Praia de Iracema e do Futuro glorificar a santa, em sincretismo com a Virgem Maria, na versão votiva de "Nossa Senhora dos Navegantes". 

Exatamente neste momento da conversa um pequeno objeto de aspecto circular chama a atenção de uma delas, marulhando entre os búzios, na transparência da água. 

Era um daqueles populares espelhinhos, este já com a luz refletiva apagada pelo tempo e pelo sal, mas com a nítida imagem de Iemanjá no verso – objeto certamente lançado ao mar alhures por um devoto, algum dia, ou perdido por um distraído banhista ou pescador, ao longo da extensa costa do Estado.  

O advento terá sido uma benção? Um aviso? Uma epifania? Um sinal? Não sei. Toda sorte... Odoyá! 



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