O NEVOEIRO E
OS NAVEGANTES
Rui Martinho Rodrigues*
Espera-se um aumento dos índices de renovação das casas legislativas, que já eram muito elevados. Mas não se sabe se haverá renovação de atitudes; qual será a influência do poder econômico e da “máquina” governamental. Temos um nevoeiro com baixa visibilidade.
O Ceará já teve alternância no Poder, sem
renovação de condutas. A UDN e o PSD se revezavam no governo. Pequenos partidos
eram os fiéis da balança. Cobravam caro por isso. Não em dinheiro. No poder, nomeavam os seus eleitores e demitiam os do adversário. Isso configurava uma
forma tosca de seguro desemprego: Era temporário; só durava até o adversário
voltar ao poder; pagava pouco; não era preciso trabalhar. Tudo como um seguro
desemprego. Era distribuído segundo critérios partidários.
Havia oposição, porque as empresas não
dependiam tanto do aparato estatal. Não havia tanto incentivo ou amparo oficial
aos negócios. Nem o Estado era um comprador tão importante. Empresários eram
mais independentes. Prefeitos também não tinham tantas formas de cooperação com
o Estado ou com a União. Não havia o presidencialismo de cooptação, porque
tínhamos menos Estado na economia.

Não havendo tantos gastos, não havia tanta
extorsão (tecnicamente concussão) nos negócios com o Poder público. Depois de
uma vida dedicada à política os homens públicos não iam além da acumulação de
algumas aposentadorias, sem nenhuma semelhança com os bilhões amealhados hoje.
Não ficavam ricos.
O casuísmo das obras públicas não era tão prejudicial. A estrada feita para o aliado político transportava bens para toda a sociedade; o açude viabilizava alimento para o mercado, sem distinção. Por tudo isso havia partidos ou cooperativas de poder assemelhados a agremiações políticas.
O casuísmo das obras públicas não era tão prejudicial. A estrada feita para o aliado político transportava bens para toda a sociedade; o açude viabilizava alimento para o mercado, sem distinção. Por tudo isso havia partidos ou cooperativas de poder assemelhados a agremiações políticas.


O tempo dará todas as respostas, e Paulinho da
Viola aconselha: “Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o
barco devagar”.
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