domingo, 23 de outubro de 2016

ARTIGO - Por Que Votar? (AS)


POR QUE VOTAR?
Arnaldo Santos*


É consabido que o sistema político partidário e eleitoral brasileiro apresenta os mais variados desvios, tanto de forma como de conteúdo, e de comportamento dos participantes.

Por imperativo da verdade é preciso dizer que esses desvios não são exclusivos dos políticos em suas ações antirrepublicanas, mas também do eleitor, que em parte ainda vota por interesses particulares, e vende ou troca seu voto, (e não estou falando só dos eleitores mais simples, mas dos ditos letrados, politizados e urbanos). Esse comportamento retroalimenta um modelo político que, a um só tempo, é corrupto e corruptor.

Como jornalista e cientista político participei dessa última campanha. No primeiro turno percorri a cidade, fiz reuniões com "lideranças" políticas e comunitárias, e me surpreendi ao constatar que pouco mudou no comportamento de exploração de parte dos eleitores, e o grau de extorsão praticada por algumas “lideranças”. Ainda está presente a pergunta: “O que você me dá para eu votar?”. Até quando?

Essa realidade tem gerado um sentimento coletivo de desprezo pela política que só agrava o que já é muito ruim, fragilizando a democracia.

Outra grave distorção é o sistema partidário, que mais parece uma feira de cacarecos com essa infinidade de partidos, voto e coligações para as eleições proporcionais, dentre outras.

Embora o aumento da abstenção nas eleições do último dia 02 de outubro tenha sido de apenas 1,5 pontos percentuais, em relação à média histórica, esse fato foi recepcionado com grande repercussão na imprensa e impacto na classe política.

A média de abstenção no período (2000 a 2012) foi de dezesseis por cento, enquanto o percentual de votos nulos e brancos foi de sete, no mesmo período.

No primeiro turno esse percentual subiu para 17,5, o que equivale a cerca de 25 milhões de eleitores que deixaram de votar. Apesar desse índice ser relativamente alto, foi considerado normal pelo presidente do TSE, Ministro Gilmar Mendes.

Essa abstenção, quando somada aos votos nulos e brancos, corresponde a uma votação que venceria as eleições em 21 capitais, sendo em 10 já no primeiro turno, e levando para o segundo turno em outras 11. Na prática, é como se o eleitor tivesse transformado o voto, que é obrigatório, em facultativo.

A pergunta que os políticos tentam responder é: “Por que o eleitor não foi votar?”. Proponho uma outra angulação para essa reflexão e pergunto: “O que ainda motiva o cidadão a sair de casa para votar, se o que ele recebe como retorno é tão pouco, em termos dos serviços essenciais continuados, como saúde, educação, transporte e segurança, enquanto sobra corrupção?”.

Para entendermos o significado dessa abstenção e do número de votos nulos e brancos devemos observar igualmente o desinteresse dos jovens entre 16 e 18 anos, (período em que o voto é facultativo). Até junho deste ano apenas quarenta por cento haviam requerido o título de eleitor, o que significa uma diminuição de nove por cento, se comparado ao mesmo período de 2012.


Essa realidade nos impõe a todos uma ampla e urgente mobilização em favor de uma reforma política, que contemple a adoção do voto distrital, fim das coligações para as eleições proporcionais, e a instituição da cláusula de desempenho para os partidos, para por fim a essa farra partidária que existe hoje – 35 partidos registrados e mais de 28 esperando registro pelo TSE.


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