domingo, 23 de junho de 2013

CRÔNICA

EU, NÓS, ELES


Do ponto de vista da legitimidade dos atos que estão ocorrendo no meio das ruas no Brasil atual, não há mais muita coisa a se discutir.
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Em meio à hipocrisia da imprensa, ao extremismo da classe A, defensora do fim do “vandalismo” dos manifestantes, e do silêncio quase absoluto das autoridades, algumas coisas me chamaram mais atenção do que as notícias para analfabetos que se veiculam nos meios de comunicação. O que me chama a atenção é a utilização dos pronomes pessoais.  O brasileiro adora o “eles” ao invés do “nós”.

Onde estão os corruptos do Brasil, aqueles (os eles) que fazem mal ao país? Quem são? Políticos? Juízes? Quem são os algozes do povo, que nada merece de ruim e é sofrido e feliz?

Gostei de ouvir na rádio Assembléia os discursos apoiando as manifestações do “povo”, que está cansado dessas pessoas (eles) que não utilizam bem o dinheiro público e estão com os dias contados, em face do cansaço do povo. Um político criticando os outros, o eterno “eles”, sem usar o “nós”.
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Lembro-me do que ocorreu após o lançamento do filme “Tropa de Elite”, que institucionalizou o inimigo nacional: o sistema. Essa pessoa, que não tem rosto e que é culpada dos erros do Brasil, é formada por quem? Antropomorfizar um ente que não podemos enfrentar ao vivo, pois ele é sórdido e inteligente (o sistema), é uma forma curiosa de ver as coisas.

De minha parte, não acredito no sistema, nem n’eles. Acredito em nós, para começo de conversa. O brasileiro inventará outro demônio para assolar sua vida, tal como as Igrejas Cristãs criaram, em tempos de medievo e Idade Moderna? Sim: o sistema, eles, os culpados sem rosto. Nós! Que pronome bonito! Nós somos parte de tudo que há de ruim.

A mea culpa do brasileiro seria um ato muito bonito de se ver, pois a polícia não recebe dez reais de propina para deixar passar uma multa, senão do homem direito e reto, o brasileiro honesto, que sempre é achacado por eles. “Eles” existem inicialmente por causa de um conjunto de “nós” que existimos por aqui. Nós fazemos parte disso tudo.

Pobre povo, tão consciente de tudo e não percebe que a troca de um pronome vai deixar a coisa mais correta. Quem quer melhorar os problemas do mundo, pode iniciar limpando sua calçada e não corrompendo agentes públicos.
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Sem o “nós” fica complicado para mim. Finalizo esse raciocínio para falar da evolução pronominal que devemos fazer. Sair do “eles” e entrar no “nós” é algo fundamental para as coisas terem um pouco mais de sentido. Só assim a evolução iria para o “eu”, palavra que não se usa quando é detectado um erro grande. A culpa do mundo, do país, do estado, do município ou do trânsito caótico, é minha também. Eu sou brasileiro e tenho culpa! É isso. Vou mudar minhas atitudes. 

Por Danilo Celedonio


Rui Martinho Rodrigues
Presidente da ACLJ
Síntese do texto de um aluno do Prof. Rui Martinho na UFC. Vale como depoimento de um dos jovens partícipes das manifestações de protesto que ocorrem no país. 

         

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