PROVEITO DO SILÊNCIO
Vianney Mesquita*
Márcio Catunda*
Oculte o que sente,
o que pensa. Orne-se e exalte-se de ignotos esplendores a alma na prisão dos
sentidos. Admire-se, aprecie-se e cale-se.
[FIÓDOR IVANOVITCH TIÚTCHEV, poeta russo.
Ovstug, 05.12.1803; San Petesburgo, 27.07.1873].
Em não falar pensemos tão-somente
Quedos restemos em sazões quaisquer,
Na taciturnidade, adredemente.
Ao decidir não sibilar, sequer.
Manda a razão, conforme se pressente,
E consoante a lógica requer,
Vivamos no silêncio integralmente
Quando a harmonia se justapuser.
Nada expressemos sem tir-te nem guar-te
Mudos, então, prezemo-nos, destarte,
Ornados e exaltados de esplendores.
Sob o trio verbal, recato à parte,
Iremos nos querer - que o amor se farte –
Com noss’alma aditada de fulgores.
Esse poema parece expressar a ideia de se abster de falar, de permanecer em silêncio como uma escolha consciente e racional, especialmente quando a harmonia prevalece. No contexto de censura coletiva, isso poderia ser interpretado como uma reflexão sobre a autocensura imposta pelo medo ou pela pressão social. O poema sugere uma valorização do silêncio como uma forma de preservar a paz e evitar conflitos, mas também pode ser visto como uma crítica à supressão da liberdade de expressão. A última estrofe parece apontar para a ideia de que mesmo em silêncio, as almas podem se comunicar e se enriquecer mutuamente, mas também pode ser lida como uma advertência sobre os perigos de reprimir pensamentos e sentimentos. Em suma, o poema pode ser correlacionado ao atual momento de censura coletiva no Brasil ao destacar a importância do silêncio como escolha consciente, mas também levanta questões sobre os limites da liberdade de expressão e os perigos da autocensura.
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