terça-feira, 19 de novembro de 2019

ARTIGO - Vozes Alheias (ES)


VOZES ALHEIAS
Edmar Santos*



Vozes, essas vozes que não são minhas e que não calam. Impositoras de minhas condutas; não quero, não vou. Fiz... sim, para minha angustia infinda; não resisti.

O que fiz? Não sei. Não sei também a medida do que fiz, sua intensidade, sua amplitude. Nada, não fiz nada; as vozes, foram elas. Eu as escuto, agora mesmo estão falando.  Sussurros!

Noites insones. Imagens, formas, cores, gente; inteiros, pedaços, geometria. Olhos que veem múltiplas coisas, coisa nenhuma de se admirar. Mentiras, ou talvez verdades. Diz para mim!

Não, ninguém sabe. Quem vai saber o que eu... Mas não sou eu, são elas! Escute... Não me entende não é? Sei, eu sei.

Estou calmo. Elas disseram para eu me acalmar; querem que eu lhe diga algo: “Estão aqui e são reais. Estão dentro da minha cabeça. São coisas da minha cabeça.” Hahaha!

Outro dia até pensei que estava louco. Não me acho louco; penso que sou normal até demais.  O que há de mau em ouvir vozes. Tudo, não é? Sim, tudo porque elas estão no controle de mim. Estou louco então.

Preciso de água. Pode me servir água? Deixe o copo aí onde coloquei; sempre coloco o copo a essa distância. Não importa, apenas prefiro que ele fique aí. Sede, é bom ter sede; tão bom quanto saciá-la, não acha? Isso importa, claro que sim.

Fumar, não fumo. Álcool é bom para fazê-las cantar; essas vozes ébrias e cantadoras, é o que são. Que música? Muitas... Estrangeiras; não sei traduzir nenhuma. Curto o ritmo meio balada, meio zen. O som? Paran, paran, paraaann... Lento, meio lento.

Prefiro a vigília. É sempre mais tranquilo estar acordado. Saio por aí, vejo gente, olho os lugares. A noite é feita para que andemos vagando sem rumo; tem sempre muita sombra pela noite. Se olho para o céu? Não, prefiro as esquinas.

Normal, me sinto bem normal. Acho mesmo que estou me acostumando a ouvir essas vozes como sendo minhas. Estou ouvindo as suas agora. Isso é normal?




NOTA DO EDITOR


A História está repleta de nomes famosos que ouviam vozes: Jesus, Sócrates, Galileu, Joana D´Arc, Pitágoras, William Blake, Carl Jung e Ghandi.


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