terça-feira, 12 de novembro de 2019

ARTIGO - Terremoto Político (RMR)


TERREMOTO POLÍTICO
Rui Martinho Rodrigues*


Terremotos são destruidores. A liberação de forças tectônicas, fortes ou fracas, causam apreensão. Era geológica é a divisão de um íon na escala de tempo geológico, marcada pela formação de continentes e oceanos, cuja mudança é relacionada com as maiores transformações do planeta. A política atual passa por abalos sugestivos de reviravolta global. Transformações geológicas decorrem da escala planetária dos abalos de força “císmica”. A política sofre pressões “tectônicas”.


Líbano e Iraque têm manifestações com dezenas de mortos. Desde a chamada “Primavera Árabe”, Síria, Líbia e Iémen ardem, sempre com intervenção estrangeira; Israel, única democracia da região, passa pela mais prolongada crise de governabilidade, sem maioria para compor um gabinete, após sucessivas eleições.

A democrática Europa ocidental passa pelo mesmo problema na Itália, na Espanha, na Alemanha, onde repetidas eleições não definem maiorias; o Reino Unido não decide se deixa ou fica na União Europeia. A França vive a crise dos coletes amarelos; na Ásia, Hong Kong é palco de intermináveis manifestações com força de terremoto; a Ucrânia, no leste da Europa, passou por violenta crise política, mudou governo e caiu na guerra civil com intervenção russa.

Nos EUA, partidos vivem crises de identidade e representação, o presidente é contestado pela oposição e está a beira do impeachment. Na América Latina, temos: Colômbia com um acordo de paz reprovado em consulta popular e de concretização duvidosa; Venezuela tornou-se inviável; Nicarágua passou por manifestações com odor de guerra civil.

Equador vive turbulência; Peru tem ex-presidentes presos e um conflito entre o Poder Executivo e o Legislativo; Chile em convulsão; México vive guerra civil protagonizada por organizações criminosas; Brasil passa por prolongada radicalização da sociedade e uma criminalidade com laços políticos, limítrofe de guerra civil; Haiti passou décadas sem governo, entregue ao crime. Na África, a Somália viveu situação análoga a do Haiti. A URSS e o Leste Europeu passaram por terremoto político, do qual ainda não se recuperaram.

O governo Trump vive crises em meio ao crescimento econômico e pleno emprego; o Chile e a Bolívia vivem um largo período de prosperidade. O Brasil ainda vive o rescaldo de uma recessão. Hong Kong é riquíssimo e não conhece insatisfação com a economia. A Revolução Iraniana explodiu em tempos de prosperidade.

Bonança e dificuldades econômicas fazem parte da equação, mas não são determinantes, senão em alguns momentos. Há falta de instituições confiáveis; lideranças acreditadas, sob o impacto da mudança cultural forçada; resistência posta pela revanche do sagrado à aculturação aludida, principalmente no campo dos costumes.

O choque de civilizações (Samuel Phillips Hutington, 1927 – 2008), agudizado pelas migrações e pela globalização, potencializando a agressividade do multiculturaliso diferencilista, confluem para a liberação das forças “tectônicas” capazes de refazer “oceanos” e “continentes” políticos e sociais. A mudança de equilíbrio de forças entre potências tradicionais lideradas pelos EUA, de um lado, e a China, de outro, completam o quadro de instabilidade.

O desgaste das teorias políticas tradicionais abala partidos, sindicatos e formadores de opinião. A telemática introduziu novos atores políticos. Mudança de eras geológicas não deixam pedra sobre pedra. É catastrófica e de resultados imprevisíveis. Foi o que houve quando da queda do Império Romano. Será isso que estamos vivendo?


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