O MONOPARTIDARISMO
DISCRETO
Rui Martinho Rodrigues*


Somos virtuosos e sábios. “Sabemos o que está
por trás das aparências”; temos a ambição de poder “só para fazer justiça”; os nossos
fracassos e crimes são culpa da sociedade. Temos a quem odiar e jogar todas as
responsabilidades: o “sistema”. Podemos ser incoerentes: a dialética nos
socorre com a unidade dos contrários.
Somos pela cultura da paz e financiamos o crime violento comprando e usando drogas ilícitas. Somos internacionalistas ou nacionalistas conforme a conveniência da luta pelo poder. Desqualificamos os nossos críticos como “serviçais dos opressores”. Escapamos da crítica porque somos do “lado do bem”. Os nossos críticos são “do mal”. Fazemos pose de intelectuais porque temos a companhia de quase todos eles, nas posições que assumimos – ou até somos um deles.
Somos pela cultura da paz e financiamos o crime violento comprando e usando drogas ilícitas. Somos internacionalistas ou nacionalistas conforme a conveniência da luta pelo poder. Desqualificamos os nossos críticos como “serviçais dos opressores”. Escapamos da crítica porque somos do “lado do bem”. Os nossos críticos são “do mal”. Fazemos pose de intelectuais porque temos a companhia de quase todos eles, nas posições que assumimos – ou até somos um deles.
Prometemos emancipação. Obediência só às normas
em cuja elaboração participamos. Desfrutamos da solidariedade de irmãos de fé,
digo, de camaradas ou companheiros. Transcendemos a nossa finitude sendo parte
de um todo orgânico que pode ser a classe social, um partido ou um movimento
político. Não precisamos de família, Igreja ou pátria. Estas até atrapalham,
principalmente as duas primeiras, com as quais convivemos de perto, exigindo de
nós o exercício da tolerância.
Seguimos a deusa Bem-Aventurança pela estrada macia que leva ao bem-estar, assegurado pelo Papai Noel, digo, pelo Estado. Bem-estar não precisa ser conquistado. Não pensamos em esforço nem no campo intelectual. Seguimos comodamente o pensamento hegemônico. Citamos autores que não lemos, repetimos chavões e odiamos as injustiças sociais. Simples assim. Não há sedução maior.


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