quarta-feira, 16 de outubro de 2024

CRÔNICA - O Amigo, o Poeta e a Saudade (RMR)

O AMIGO,
O POETA E A SAUDADE
Rui Martinho Rodrigues*

 

Somos como a pragana, espécie de barba de espigas de existência fugaz, nos ensina o livro de Jó. Cronos, devorador implacável, destrói quase tudo. Mas Mnemosine disponibiliza a memória, para que o Titã destruidor, que reina sobre o tempo e nos tira tantas coisas, não nos deixe apenas a ausência.

 

A perecibilidade da nossa existência é compensada pelo legado deixado pelos amigos que partem. Paulo Coelho Ximenes, um amigo, um técnico e um bardo de largos méritos, nos deixa a memória de um homem afável, ético, cujo bom gosto musical e a produção poética nos consolam. 

Engenheiro agrônomo, tendo como habitat natural a área técnica, tinha sensibilidade artística. Sabia expressar com grande beleza na forma, capturando a essência feita de emoções e significados que, embora difíceis de traduzir em palavras, se tornavam fáceis de compreender quando saiam da sua pena.

 

O sínolo, constituído por forma e essência, era uma poesia bela e portadora de sabedoria, que, como a ética, não é proporcionada pelo conhecimento. É a esfera da afetividade o arrimo da aptidão para o bom uso do domínio cognitivo da realidade. A lhaneza e o dom da compreensão e de expressar sentimentos, presentes no já saudoso amigo Paulo Ximenes, não eram produtos dos saberes técnicos de engenheiro agrônomo. 

Nem somente da sensibilidade artística. A sabedoria, entendida como capacidade de fazer bom uso do conhecimento, discernimento para entender e inspiração para traduzir em palavras coisas indizíveis revelam que o poeta tem bom caráter. Assim era o amigo, o intérprete de emoções e sentimentos, deixando saudades e um baú de versos que sintetizam amor, lembranças e valores. 


Amigos se alegram e choram juntos. Os amigos da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, neste momento, fazem ouvir o pranto da citada casa de letras. Agremiação em que a amizade é um forte liame entre os confrades que tantas vezes riem juntos, pranteia Paulo Coelho Ximenes, consolada pelos versos que ele nos deixou e pela memória de seu companheirismo.

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