Despedida
Adriano
Vasconcelos*
Ah, a Suyanne... bem a seu modo, discreto e delicado, ela conseguiu uma forma gentil de despedir-se. Foi-se aos poucos, para que fôssemos nos acostumando com a ideia, amortecendo assim a seca pancada da temporária separação.
Nossos destinos se cruzaram em 1992, em pleno período momino. “E a vida, tão generosa comigo, veio de amigo a amigo, me apresentar a você”, exatamente como na maviosa cantiga do Jorge Vercilo.
Tornamo-nos um, com os mesmos gostos, preferências, amizades, famílias, e principalmente o modo de ver e curtir a vida, cultivando amigos mundo a fora. A mesma estética. Quem conheceu sabe do que estou falando.
Por mais de 32 anos
nos ocupamos em ser felizes, com festas, viagens, amigos, sem, entretanto,
negligenciarmos a ajuda ao próximo e às indefesas criaturinhas de quatro patas.
Nisso ela era bamba! Sua comunicação empática com eles era patente. Dizia ser
seu ministério divino, outorgado diretamente pelo Criador.
Adotou como seus os meus quatro filhos, que chamavam-na de “boadrasta” – e, depois, os muitos netos.
Cuidamos dela na doença como ela teria cuidado de nós, nada lhe faltando em termos de conforto e tratamento. Conforme sua vontade sempre expressada, foi poupada de dor, quer física, quer psíquica. Mais um bônus do Pai Eterno.
Não foi sem deixar, além de muita saudade, um exemplo de como ser gente. Deus a quis perto de si (O Senhor a deu, o Senhor a levou; louvado seja o nome do Senhor – Livro de Jó, capítulo 1, versículo 21), cabendo a nós agradecer-Lhe por termos tido a chance de conhecê-la, e de termos convivido com sua doce pessoa.
Alma minha gentil,
que te partiste
Tão cedo desta vida
descontente,
Repousa lá no Céu
eternamente,
E viva eu cá na
terra sempre triste.
Se lá no assento
etério, onde subiste,
Memória desta vida
se consente,
Não te esqueças
daquele amor ardente
Que já nos olhos
meus tão puro viste.
E se vires que pode
merecer-te
Alguma cousa a dor
que me ficou
Da mágoa, sem
remédio, de perder-te;
Roga a Deus que
teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá
me leve a ver-te,
Quão cedo de meus
olhos te levou.
(Luiz de Camões – ca.
1560)
Ela não morreu... ela apenas partiu antes do combinado. Até breve, Sukita!
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