sábado, 12 de maio de 2018

CRÔNICA - Bochecha (TL)


BOCHECHA
Totonho Laprovitera*


De primeiro, “pegar bochecha” era uma perigosa brincadeira praticada pelos meninos da jovem Fortaleza, recém-tomada pelos seus primeiros veículos motorizados.

A brincadeira ocorria do seguinte jeito. A meninada metia o pé na carreira atrás de um caminhão. Aí, quando o alcançavam, os meninos penduravam-se na traseira da carroceria e eram levados até onde ele parasse. Lá, eles caçavam um outro cargueiro para arrumar a sua volta. Foi não foi, infelizmente, acontecia uma tragédia com um deles.

Já em Sobral, no começo dos anos 60, levando uma meninice muito afoita, era comum avistar o danisco Kiko se arriscar ao “pegar bochecha” no vagão do trem que, ao atravessar a ponte, dele saltava por cima de um cabo de alta tensão e mergulhava de “tainha” nas águas do Rio Acaraú.

Nunca mais tive notícia de alguém “pegando bochecha”. O que assisto, às vezes, são alguns “surfistas” em ousadas evoluções nas composições da linha férrea do Mucuripe, desafiando a própria sorte. Como se a vida, por si mesma, já não fosse tão arriscada.




COMENTÁRIO

O cronista, assim como eu, pertence aos baby boomers, e talvez desconheça que na geração de nossos avós, como na de nossos pais, a bochecha era mais comum nos bondes que circulavam por Fortaleza – no tempo daqueles, puxados por burros, e, na meninice destes últimos, já movidos por corrente elétrica, até o final dos anos 40.

O trocador, quando alcançava os meninos que viajavam de graça, agarrados aos últimos balaústres do bonde, batia em seus dedos com um saco de moedas que sempre conduzia, de modo a castiga-los – e eles tinham que suportar a tortura, pois descer do bonde em movimento podia ocasionar quedas enormes.

“Pegar Buchecha” (sic) é verbete do Glossário de Expressões Cearenses, adendo do Manual de Redação Profissional da ACLJ, com e-book acessível em nosso Blog. 

Reginaldo Vasconcelos
  


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