quinta-feira, 19 de abril de 2018

ARTIGO - O Barrosão É Sem Noção (HE)



O BARROSÃO 
É SEM NOÇÃO
 Humberto Ellery*


Certo dia, o grego Esopo viu um cordeiro se aproximar mansamente de um regato que escorria cristalino morro abaixo, e começou a beber sua água. De repente surgiu às margens do mesmo regato, lá no alto do morro, um lobo muito mau e arrogante (e faminto) que foi logo gritando:

– Ei, seu cordeiro safado, você está toldando a água que eu vou beber!

O cordeiro respondeu:

– Como pode ser isso, seu Lobo, se eu estou a jusante do rio e o senhor está a montante? (o cordeiro conhecia os termos de hidrologia).

O lobo, prepotente, rosnou:

– Se não foi agora foi no ano passado, e você vai me pagar por isso!

– Seu Lobo, eu nasci este ano, como posso ter feito isso, se no ano passado eu ainda não era nascido? – perguntou o cordeiro.  

O lobo, covardemente, gritou:

– Então foi seu irmão!

– Eu sou filho único, seu Lobo, não tenho irmãos – obtemperou o cordeiro.

– Pode ter sido seu pai – impacientou-se o lobo, já arreganhando os dentes.

O cordeiro, já morrendo de medo, redarguiu:

– Meu pai virou churrasco antes do meu nascimento, seu Lobo, não poderia tê-lo feito.

O lobo, sempre acusando sem provas, mentiroso que era, referiu-se sempre a crimes que o cordeiro teria cometido no passado, por si ou por seus parentes. Em nenhum momento acusou o cordeiro por crimes que ainda poderia vir a cometer no futuro.

Afinal o lobo foi até criterioso. Como acusar alguém por um crime que supostamente iria cometer no futuro? Mesmo porque ele sabia que o cordeiro não teria futuro, se é que me entendem.

Essa história não teve um happy end, e detesto o seu desfecho. Muito cruel para o meu gosto.

Lembrei dessa fábula acompanhando as investigações do Caso Rodrimar. Como é de conhecimento geral, o Presidente Temer está sendo investigado por ter supostamente recebido propina da Empresa Rodrimar, que atua no Porto de Santos, em troca de um Decreto que teria beneficiado aquela empresa.

O Ministro Barroso, Coordenador Geral do Projeto Fora Temer, mandou a PF investigar como teria acontecido o crime (que ele tem convicção que aconteceu, só não tem as provas).

Depois de exaustivas investigações, com quebra de sigilo bancário (ao arrepio da lei), e as prisões dos amigos do Presidente e de seus correligionários, investigaram até uma reforma na casa da Maristela, filha do Presidente (que diabos a cueca tem a ver com as calças?), e não encontraram uma prova sequer, por mínima que fosse. Nada!

O certo é que o Diretor Geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, disse que o processo provavelmente seria arquivado, pois não havia provas contra o Presidente Temer. Prá que!? O Barrosão foi no pescoço do Segóvia, só não mordeu-lhe e jugular porque o Presidente Temer imediatamente o despachou para a Itália.

Mas o Barrosão não desiste, deu mais sessenta dias para a PF achar alguma prova – tem que escarafunchar tudo, mesmo que essa bagunça instalada prejudique a lenta e penosa recuperação do País. Mais importante é continuar as ações do Projeto Fora Temer, custe o que custar!

Enquanto isso, a defesa do Presidente achou que tinha uma prova cabal, irrefutável, da sua inocência (agora é assim, o ônus da prova é do acusado).

Que prova tão definitiva e irretorquível é essa? Simples: a leitura do Decreto assinado pelo Presidente (Dec.nº 9.048/2017) só abrange, e beneficia, empresas que tinham contrato com o Porto de Santos após 1993, e a concessão da Rodrimar é anterior a 1993. Simples, não é?

Simples coisíssima nenhuma, pois o Ministro Barroso, ao examinar o texto, concluiu que existe uma “brecha” em um determinado artigo, que permite uma alteração do Decreto no futuro e que poderá vir a favorecer a Rodrimar. E eu que pensava que qualquer lei pode ser alterada a qualquer tempo! O tal do Franz Kafka era um aprendiz.

Como podemos ver, antigamente, no tempo em que os animais falavam, o Lobo Mau, mesmo sendo prepotente, arrogante, mentiroso, acusando sem provas, não acusava crimes que poderiam vir a ser praticados no futuro. Era mais criterioso que o Barrosão!


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