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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
ARTIGO - Engano e Autoengano (RMR)
ENGANO E AUTOENGANO
Rui Martinho Rodrigues*
A percepção e a realidade
Realidade: livro aberto ou enigma? Tem aspectos óbvios ou assim considerados sem grandes prejuízos. Mas pode ser enganosa. A complexidade do objeto, os nossos desejos, com o véu de Maya, de Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), e informações ou convicções anteriores podem dificultar a compreensão do real e do imaginário.
Gaston Bachelard (1884 – 1962), em "O novo espírito científico", menciona obstáculos epistemológicos ou desafios à compreensão da realidade em razão de conhecimentos prévios supostamente válidos. Thomas Kuhn (1922 – 1996), na "A estrutura das revoluções científicas", trata da incomunicabilidade dos paradigmas e ressalta os limites da razoabilidade de estudos e pesquisas. Bachelard e Kuhn eram físicos que se tornaram excelentes historiadores e filósofos da ciência.
As ideias políticas são mais escorregadias do que as ciências da natureza, porque o fator humano não tem a regularidade nas respostas a estímulos, como os fatores físicos. Interferências de interesses e paixões são incomparavelmente maiores nos problemas políticos. A inconformidade com a realidade pode ser enaltecida como ato de coragem, visão privilegiada e abnegação, mas pode desconectar da realidade.
Isaiah Berlin (1909 – 1997), em "O sentido da realidade", examina o discernimento político ao tratar das tradições doutrinárias. Na obra Ideias políticas na era romântica, ele analisa o efeito do titanismo, atributo romântico que se opõe à realidade, podendo escorregar para ilusões, longe da superioridade intelectual de quem percebe o que foge à compreensão dos “alienados”.
Raoul Girardet (1917 – 2013), em "Mitos e mitologias políticas", ressalta a semelhança entre o pensamento das tradições políticas e a mitologia. Prudente, não nomeou nem descreveu mitologias políticas mais prestigiosas, que poderiam alijá-lo dos meios intelectuais. Mas pode inspirar o exame de aspectos que ele não ousou citar.
O paraíso perdido e o pecado original
A ideia de uma idade de ouro ou paraíso perdido está presente no pensamento político supostamente secular, inclusive o jacobino e o neojacobino. Uma comuna primitiva, sem distinção de classe, no passado distante, no relato bíblico, guarda semelhança com a narrativa havida como laica, do pensamento político. A perda do paraíso por um pecado original, cujos efeitos perduram, é outra semelhança embora um relato fale do fruto da ciência do bem e do mal, enquanto o outro culpa a apropriação da propriedade privada.
A promessa messiânica
Imediatamente após a queda e a consequente perda do paraíso, o relato bíblico introduz a promessa messiânica: a semente da mulher irá esmagar a cabeça da serpente e está lhe morderá o calcanhar. A semente da mulher, o Messias; a serpente o inimigo das criaturas de Deus. A propriedade privada, como o pecado original na narrativa ideológica, ao produzir a desigualdade de classe dá origem ao conflito fundamental entre elas, criando a dinâmica que terminará por destruir a divisão de classe recriando a sociedade sem conflito fundamental, sem exploração, sem desigualdade, análoga ao paraíso bíblico.
A semente libertadora, no discurso político, não virá da Abraão, mas da dinâmica social conflitiva como uma classe revolucionária. É grande a variedade do pensamento neojacobino. Mas a dinâmica do conflito, a marcha triunfal de volta para o paraíso não pode ser ignorada.
O novo homem redimido
Jean Jacques-Rousseau (1712 – 1778), no "O Contrato Social", afirma que os homens nascem bons, mas a sociedade os corrompe. Não explicou quem corrompeu a sociedade que corrompe os homens nascidos bons. Jacobinos ou os seus descentes guardam estreita afinidade com o Iluminismo do Contrato Social. A sociedade molda o homem, mas uma vez corrigida, deixará de corrompê-los, dando lugar a um novo homem. O texto bíblico diz: quem está em Cristo é transformado pelo Espírito Santo em nova criatura. Engenheiros sociais não admitem uma natureza humana cuja modelagem radical seja ilegítima, como a lavagem cerebral.
Autores laicos, mas educados em famílias de tradição judaica, cuja conversão, conveniente ou sincera, não implica em afastamento do relato do Gênesis, tornam as citadas semelhanças mais relevantes. O espírito missionário de personagens do mundo confessional e do ativismo político são muito semelhantes. Nas conversas jocosas é comum ouvir que a diferença entre um neojacobino e uma pessoa comum é que os comuns, se gostam de cinema vão ao cinema, o neojacobino, porém, se gosta de cinema quer que todos gostem, como imperativo de verdadeira consciência e de virtude cívica.
Ativistas virtuosos e carolas
Distinguir o missionarismo político do religioso é ainda mais difícil quando examinamos o virtuosismo de ambos os lados. Um lado tem ativismo político radical. O outro o carolismo. A fusão dos dois tipos é o fariseu que patrulhava condutas políticas, exigia correção, sendo uma corrente religiosa. O sentido de heresia e de blasfêmia está presente na correção política havida como laica.
Separar laicos e confessionais requer uma diferença essencial entre eles. Religião é a busca de superação da finitude, da totalidade e de radicalidade, conforme Thomas O’Dea, na obra Sociologia da religião. Não precisa haver divindade no fenômeno religioso. A superação da finitude do indivíduo pode ser na classe social, grupo identitário ou partido político, conforme as muitas faces do neojacobinismo.
A totalidade está presente em movimentos políticos que podem moldar literatura, teoria econômica, jurídica, política, saúde pública, urbanismo, pedagogia e Teologia. Tal abrangência é a totalidade e a radicalidade do fenômeno religioso. O debate sobre a contaminação da política por convicções confessionais deveria considerar o desafio que é fazer a distinção entre os confessionais e o laicismo.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2025
SONETO - Condutores da Palma (JC)
Condutores
da Palma
Jovem
Chronos*
(Árcade Novo da Arcádia Nova Palmaciana)
Para os Árcades Novos
Iolita Polínia e Eládio Dionísio
Árcades primos de nossa Palmácia,
Sem a falácia de luminescência
Na coerência, sob perspicácia,
Com acurácia, mostram inteligência.
Na eficiência, tino e pertinácia,
Bravura, audácia e grande eloquência,
Tomam tenência, expondo eficácia
Sem contumácia, com clarividência,
Deusa Fortuna, dona da vitória,
É nosso marco pra que o brilho luza
Nos passos da cadência compulsória.
A fim de que o Destino mais aduza
E aportemos aos píncaros da glória,
Quem tiver a palma que a conduza!
Palmácia, 14 de dezembro de 2019 – quando
da derradeira reunião do ano desse Sodalício.
ARTIGO - Viaja Ligeiro (JDS)
Viaja Ligeiro
o Número Inaugural de Palma Serrana
(Revista Anual da Arcádia Nova Palmaciana)
José Damasceno Sampaio *
(Árcade Novo Adamastor Urano)
Nada fica tão bem na testa do vencedor do que
a coroa da modéstia (DONOSO
CORTÊS, filósofo e político espanhol.
Vale de la Serena, 6.5.1809; Paris, 3.5.1853)
Foi efetivada no último dia 6, sábado passado, a última reunião, de 2025, da Arcádia Nova Palmaciana, instituição científica, literária e artística da nobílima terra dos celebrados professores Vicente de Paulo Sampaio Rocha, José Rebouças Macambira, Maria Grasiela Teixeira Barroso e, entre tantos outros, Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira, árcade novo titular, com o agnome de Artur Zéfiro, partícipe da magnífica sessão.
O evento sucedeu na estância Balneário do Zé Moisés, bairro Caboclos, em Palmácia-CE, de propriedade de D.a Rejane Mendes Andrade (rebento do Sr. Luís Mendes e da Prof.a Ivanise Mendes, hoje com 90 anos) que recebeu com alteada generosidade a Diretoria e os componentes da Instituição e acompanhantes com um lauto almoço, acompanhado de mil conversas e lembranças da Cidade.
A reunião teve como primordial propósito proceder à eleição da Diretoria para o biênio 2026-2027, depois de dez anos tendo como Presidente o Árcade Novo Eládio Dionísio, Prof. Fernão de la Roche D’Andrade Sampaio, o qual, além de não consentir que a entidade perecesse, haja vista, principalmente, a ocorrência da pandemia de covid-19 e das grandes chuvas impedientes da comparência dos imortais ao Distrito-Sede do Município, desenvolveu esta série de mandatos (cinco), no âmbito dos quais dirigiu o patrocínio de uma conjunção de procedimentos institucionais, culturais, científicos e de lazer, de considerável significação, como, num exemplo entre tantos outros, a edição de livros sob a égide do Solar dos Sampaios e da Arcádia.
Foi unanimidade a manifestação de parabéns e agradecimentos ao ex-presidente por tão vasto e proficiente mandato, bem como à Prof.a Lúcia, a principal do Solar dos Sampaios.
Naquela ocasião, lançou-se a chapa postulante à Diretoria sequente, quando meu nome estava na cabeça, e o grupo foi eleito por aclamação. Depois de muitas participações verbais dos árcade novos, inauguradas pela minha fala, momento em que expressei ligeiramente os planos para esta Direção e que, noutra oportunidade, voltarei a detalhar, o Árcade Novo Jovem Chronos – Vianney Mesquita - lembrou o fato de que está no tempo de trazer à luz o primeiro número da revista Palma Serrana, por ele sugerida há já algum tempo e ainda não levada a efeito por causa da endemia mundial do sars.cov.19, a qual – repito – não logrou matar a Arcádia.
Por tal pretexto, este magazine, o qual ainda não tem uma editoria definitiva, ficará por enquanto sob sua tutela, como sobrou acertado, e vai configurar uma seleção de textos de ciência, literatura, artes e cultura, da lavra, principalmente, dos árcades novos, bem assim de outros escritores indicados pelos titulares. O periódico receberá escritos das diversificadas áreas do conhecimento e matérias diversas no âmbito há pouco mencionado.
Por esta razão, solicito aos nossos imortais, ao Dr. Mateus, por exemplo – e, inclusive, aos que ainda não tomaram posse, eleitos na reunião a que ora me refiro – Helder Sossa, Crisando JIC, Arino Marques e Aíla Calu – que remetam seus textos para o árcade Vianney pelo endereço eletrônico vianneymesquita@gmail.com.
Poesias, contos, artigos científicos, relatos, piadas, chistes, serão acolhidos com satisfação, nomeadamente aqueles relativos à nossa Terrinha. Será, consoante se conforma a ANP, a primeira revista de Palmácia.
Noutro lance, voltarei por aqui, com a gentileza da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, a dar mais informações acerca da ANP, incluindo a posse da Diretoria, cujos componentes indicarei, e o lançamento deste magazine, que, sem dúvida, representa mais uma glória para a Terra dos Prefeitos Atanásio Perdigão Sampaio, Chico Damasceno, Campelo, João e Antônio Simplício, Darcília etc etc.
Até
outra ocasião.
* José Damasceno Sampaio
quarta-feira, 3 de dezembro de 2025
NOTA ACADÊMICA - Assembleia Geral de Fim de Ano - 2025
ACLJ
2025
ASSEMBLEIA GERAL
DE FIM DE ANO
Atingiu pleno êxito a 2ª Assembleia Geral Ordinária da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ), encerrando o exercício anomalístico da entidade, cerimônia realizada na noite deste dia 1º de dezembro, no auditório principal do Palácio da Luz, silogeu que sedia as principais academias literárias da Capital Cearense, principalmente a Academia Cearense de Letras, a mais antiga do País.
A solenidade foi conduzida pelo Secretário-Geral e Mestre de Cerimônia da ACLJ, Vicente Alencar, e a Mesa Diretiva foi composta pelo Presidente Reginaldo Vasconcelos, o Presidente Emérito Rui Martinho Rodrigues, os Membros Beneméritos José Augusto Bezerra e Graça Dias Branco, e pelos Membros Titulares Cândido Albuquerque, Sávio Queiroz Costa e Aluísio Gurgel do Amaral Júnior.
Compareceram ao evento 20 Membros Titulares e dois Membros Beneméritos da ACLJ. Além dos já citados, Adriano Vasconcelos, Altino Farias, Carlos Rubens, César Barreto, Djalma Pinto, Edmar Ribeiro, Franzé Façanha, Humberto Ellery, Luciara Aragão, João Pedro Gurgel, Paulo César Norões, Pedro Bezerra de Araújo, Roberto Bomfim, Totonho Laprovitera e Ulysses Gaspar.
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A PALAVRA DO ANO
Na pauta da solenidade, primeiramente a revelação da “Palavra do Ano”, aquela que a ACLJ elegeu como a que marcou os últimos doze meses, a mais articulada na imprensa, na Internet, nas falas públicas e nas rodas sociais do País no período, neste caso o neologismo brasileiro “TARIFAÇO”.
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O CEARENSE DO ANO
O segundo item da pauta, a outorga do título de “Cearense do Ano” àquele conterrâneo que a ACLJ reputou o mais destacado na atividade exercida – técnica, científica, empresarial, artísticas, desportiva, social.
A láurea coube neste 2025 ao Engenheiro Civil Henrique Vasconcelos, Presidente do Náutico Atlético Cearense, pelo trabalho exitoso que ele tem realizado na recuperação financeira, patrimonial, estética e social daquele clube, instituição que é uma joia do patrimônio histórico e arquitetônico do Estado. Ele foi saudado pelo acadêmico Sávio Queiroz Costa, cuja fala abaixo se transcreve.
HENRIQUE VASCONCELOS
O HOMEM DO ANO, SEGUNDO A ACLJ
Fui um menino de clubes – desses lugares que não eram apenas estruturas de concreto, mas territórios de afeto de uma cidade que pulsava diferente.
Praticamente nasci no Ideal Clube. Meu carrinho de bebê circulava pelos salões ao lado do carrinho de uma futura amiga: Marjorie Marshall, bisneta de dois homens que ajudaram a erguer o sonho: Mirtyl Meyer e Pedro Augusto Sampaio, o primeiro presidente do Ideal.
Talvez por isso o Ideal sempre me soasse familiar, como se eu reconhecesse seus sons e passos antes mesmo de aprender a falar. Hoje, tenho duas ações de sócio proprietário – e não são apenas títulos: são fragmentos vivos da minha própria história.
Houve um tempo em que os grandes clubes de Fortaleza pareciam perder o brilho. Era como ver antigos faróis se apagando silenciosamente. Mas a vida tem dessas ironias belas, e o tempo, um senhor caprichoso, resolveu surpreender.
Hoje temos o Iate Clube, brilhantemente conduzido pelo Comodoro Pompeu Vasconcelos, que saneou as finanças e devolveu ao clube o ar de casa aberta ao mar; temos o Ideal, renascido nas mãos de Amarílio Cavalcante Júnior, que trouxe mais do que gestão: trouxe alma, ousadia, cuidado, genialidade – tudo isso recolocou o clube no rumo de um futuro que muitos já não acreditavam possível.
Mas nem todos tiveram o mesmo destino. O Clube Líbano Brasileiro, tão querido, não resistiu. E essa perda ainda dói na memória da cidade.
Por fim, temos o caso do Náutico Atlético Cearense – um clube que respirou fundo e decidiu viver. O Náutico estava ali, gigante e silencioso, esmagado por dívidas e desafios. Acordá-lo exigia coragem rara. Exigia fé.
E, felizmente, foi parar nas mãos do amigo Henrique Vasconcelos – filho e herdeiro de uma presidência histórica, a de Meton Vasconcelos, nome que ecoa como tradição, dignidade e grandeza.
E eu entendo um pouco essa travessia, desde quando assumi a missão de revitalizar o Edifício Granville – um dos maiores ícones residenciais de Fortaleza – senti o peso simbólico nos ombros. Revitalizar um prédio é revitalizar histórias, pertencimentos, memórias. A jornada de Henrique no Náutico é exponencialmente maior, mais profunda, mais épica.
– Henrique, o futuro do Náutico brilha – e essa luz começou nas suas mãos!
– Doutor Meton, tenha plena certeza: o caminho que o senhor desenhou está sendo honrado com respeito e com um senso de legado que atravessa gerações!
Muito obrigado.
Sávio Queiroz Costa
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HOMENAGEM PÓSTUMA
Finalmente, a ACLJ prestou um tributo à memória da Juíza do Trabalho Milena Moreira de Sousa, que faleceu no dia 16 de novembro passado, homenagem póstuma proposta pelo acadêmico Aluísio Gurgel do Amaral Júnior.
Seu amigo e colega no magistério superior e na magistratura cearense, Aluísio proferiu o discurso de saudação (abaixo transcrito), dirigido especialmente à mãe da homenageada, Dona Milena Brasil, de 91 anos, que estava presente no auditório, e a outros colegas seus do Judiciário, que também compareceram.
À MEMÓRIA DE MILENA
A minha amiga e irmã de vida Milena foi criança no bairro de Jacarecanga e desempenhou o papel de traquina no meio da meninada. Por esta época, a cidade de Fortaleza era ainda uma poesia. Educou-se e adolesceu no Colégio Santos Anjos, no Rio de Janeiro.
De volta à Fortaleza, sua beleza desabrochou em mocidade na bucólica praia do Ideal da década de sessenta. Enamorou-se e seguiu o seu amor no rumo do Velho Mundo, foi viver em plagas madrilenhas. Lá, seu coração viu o amor findar e experimentou a dor da separação.
O tempo passou, a vida prosseguiu em Madrid e um novo amor surgiu. Declino-lhe o nome: era o dramaturgo e ator Emílio Lindner, que ainda hoje frequenta a cena cult daquela linda capital europeia; ele é o pai da sua primeira filha, Melisa.
O amor tem seus caprichos e seus vezos, às vezes tem eternidade limitada. Foi assim que, certo dia, Milena deixou Emilio na Espanha após dez anos de Continente europeu e resolveu voltar com sua filha para a terra natal. Aqui se fez funcionária pública. Conheceu o poeta e arquiteto Silvio Barreira, de quem se enamorou e com quem teve as f ilhas Lenina e Yana.
Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. Formou-se com o gáudio de ser oradora da nossa turma. Foi advogada militante. Participou das lutas pela renovação da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará ao lado de Ernando Uchoa Lima, Feliciano de Carvalho e tantos outros.
Foi diretora do Sindicato dos Advogados do Ceará ao lado de Júlio Ponte. Tinha seu maior mentor na figura do mestre Evaldo Ponte, com quem dialogava frequentemente. Pós-graduada em Direito, voltou à Universidade Federal do Ceará para cursar o Mestrado. Foi professora do Curso de Direito da Universidade de Fortaleza, onde lecionou Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho, Direito de Família, Direito Penal…
Sua versatilidade no magistério superior não conhecia limites, mas posso assegurar que a disciplina que mais lhe animava o espírito era o Direito Processual Civil.Sei disto porque além de amigos e irmãos por escolha de vida, éramos também colegas de magistério na UNIFOR.
Enquanto lecionava Direito Penal, ela ficou impressionada com o desenvolvimento e a evolução de uma turma de alunos e comentou comigo. Daí me pediu que, na condição de Juiz de Direito, providenciasse a sua participação como advogada de defesa em um Tribunal do Júri para adquirir experiência e passá-la aos alunos.
Eu era titular da segunda vara em Maranguape e o júri era da competência da primeira vara, cuja titularidade estava a cargo da Juíza Márcia Menescal, que prontamente a nomeou para advogar em defesa de cinco acusados, em processos distintos.
Resumindo, foram cinco absolvições, cada qual mais brilhante. Minha irmã simplesmente levou a metodologia da sala de aula para o Tribunal do Júri e resplandeceu. A fama correu depressa na região e o Juiz Geraldo Bizerra, titular da primeira vara de Maracanaú, intimou-a para fazer a defesa de mais cinco acusados por lá.
Estive presente ao julgamento do primeiro deles e lhes digo aqui que Milena parecia flutuar, rodeada de alunos, cada qual com um livro aberto, como se fossem estantes vivas, e ela a consultar jurisprudências, normas, conceitos jurídicos e citações doutrinárias com toda elegância enquanto desenvolvia o seu discurso de defesa.
Em determinado momento, olhei para o Conselho de Sentença e estavam todos absolutamente mesmerizados por ela. Um espetáculo de defesa que depois comentei com mestre Evaldo Ponte, seu orgulhoso mentor. O carretel do tempo se desenlinhou e Milena se faz Juíza Federal do Trabalho.
A magistratura é uma tarefa árdua. Requer muita abnegação e renúncia. Imaginem cobrar isto de uma mulher que criava suas três filhas e cuidava de seu companheiro. Quando pensava em descansar, tinha que corrigir as provas dos alunos! Mas dava conta de tudo. Era intensa.
Se estava triste reclamava: “Alú, por que será que as coisas são sempre tão difíceis para mim?” E na alegria, dizia: “Alú, se as coisas não forem difíceis para mim, não serve. Só serve se for com desafio!”.
Assim, minha amiga e irmã trilhou seus caminhos e dirigiu a Escola da Magistratura do Trabalho e foi diretora do Fórum Autran Nunes, e formou as três filhas e se separou do Silvio e disse que não cabia mais ninguém no seu coração e um dia se aposentou e criou seu neto Iuri e curtiu os seus netos Luka e Lina e pronto. Partiu serena e em paz.
A respiração foi diminuindo, diminuindo e parou naturalmente. Foi muito calmo. Que eu tenha este mesmo privilégio quando chegar a minha hora. Está tudo bem no melhor dos mundos. Maria, Mãe de Deus, olhai por nós agora e na hora da nossa morte!
Aluísio Gurgel do Amaral Júnior
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O BRINDE E A FOTO OFICIAL
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A Decúria Diretiva da ACLJ, por ocasião do seu terceiro Census ad Lustrum, nos seus 15 anos de existência, decidiu fazer ano sabático em 2026.
Entrará em letargo administrativo e social, para reavaliações – mantendo apenas em atividade o coetus decem, estamento interno denominado Arcádia Alencarina.
A Arcádia Alencarina realiza reuniões físicas bimestrais, a partir de agora na sua sede própria (Sala Irmãos Ximenes).
São concílios privativos dos dez “fardonados” da sua Diretoria, com mais quatro convidados – fornecendo apenas imagens para as redes sociais.
Ao final do recesso se deliberará sobre manter ou extinguir a entidade nos moldes tradicionais da quadraginta numerati.

