quarta-feira, 25 de maio de 2022

ARTIGO - Escola Inglesa (LA)

 O sentido da Ordem
na Escola Inglesa
de Relações Internacionais
Luciara de Aragão*
 

A atração pelas Relações Internacionais cresce sob vários aspectos e prospera entre as mais diversas áreas. Além de ser uma ciência nova, tem muito próximo os seus pais fundadores: Raymond Aron, Kenneth Waltz, Hans Morgenthau, Edward Carr, Martin Wight, Hedley Bull, conhecidos filósofos, escritores e historiadores, todos eles, nomes reconhecidos em todo o mundo. 

A Escola Inglesa de teoria das Relações Internacionais, ou realismo liberal, Escola da Sociedade Internacional, os institucionalistas britânicos tem raízes na teoria política, na história mundial e no direito internacional. Ela é uma das escolas para interpretação das relações internacionais. Considerada eminentemente uma escola de cunho histórico, há ênfase na adoção desta característica como seu locus standi no cenário interpretativo das Relações Internacionais. 

O debate em torno da Escola Inglesa é alimentado por um viés crítico em relação à pretensa falta de coerência metodológica de sua corrente interpretativa. Concorde a argumentação behaviorista, os constantes vínculos da Escola aos autores clássicos do seu campo de referência e seus métodos mais difusos, a tornariam de menor valor.

No entanto, a Escola Inglesa se fundamenta em função do relacionamento e oposição de três tradições de pensamento dicotômico de H. Carr, Martin Wight, que juntamente com Herbert Butterfield, historiador e filósofo britânico, é apontado como um dos pais da escola (Dunne, Thomas. 1989). O campo das relações internacionais historicamente se manifesta vinculado a uma dessas três tradições. (Canesin, CH. in Rev. Bras. Polit Int. 51 (1). 123-136 2008). 

No tocante as suas conexões, o ensino das Relações Internacionais, principalmente com a Ciência Política e a Economia, pode ser verificada pela incorporação de métodos quantitativos derivados da economia, tal como a teoria dos jogos, e por outras formulações teóricas como o estruturalismo e o construtivismo, este, com a premissa básica de que o mundo está sempre em transformação por ser socialmente construído. 

Existe uma mutação no conceito de ciência gestado durante o decorrer do Século XIX nas áreas de ciências exatas, chegando pouco depois as ciências humanas e sociais no Século XX. Desenvolvido após a Segunda Grande Guerra leva paulatinamente as ciências humanas e sociais a buscar uma formalização crescente de seus corpos teóricos adaptando métodos quantitativos utilizados nas ciências exatas – com ampla utilização de métodos estatísticos, experiência que frutificou no Brasil, nos anos 1960-70, na USP (Universidade de São Paulo) com o professor Frederic Moreau na área de História, com a História Quantitativa. 

A discussão em torno da coerência metodológica da Escola Inglesa tem assim, em grande medida, recaído sobre as mesmas bases das críticas dirigidas às ciências humanas e sociais em geral, durante o Século XX continuadas mesmo após o movimento pós-modernista e o início deste Século XXI. 

  A grande maioria das críticas feitas por parte de pesquisadores norte-americanos, à Escola Inglesa parece pecar por uma distorção de foco. A discussão parte da não concordância entre os vínculos buscados pela tradição inglesa a uma produção científica mais clássica e menos compartimentada, diante de uma nova concepção, esta considerada ideal e absolutamente normativa de ciência pós Francis Bacon e o seu método de indução. A proposta baconiana de uma reforma total de conhecimento busca de modo fundamental estabelecer uma história onde o conhecimento, tal como uma pirâmide, tem a história como sua base; a história natural seria a base da filosofia natural. 

Esta concepção permite um maior desenvolvimento da ciência, podendo chegar a um domínio da natureza, a partir da experiência. O ato de experimentar encontrou campo fértil em vários estudos de Relações Internacionais. Com a convicção das ideias se superporem às capacidades materiais define-se a conduta da política internacional, merecendo a análise e o correspondente processo crítico. 

Temos no estabelecimento de um mecanismo de interpretação de uma das dimensões mais fundamentais das teorizações da Escola Inglesa, o local e as inclinações da ordem, por meio do aparato metodológico trabalhado por uma consolidada e reconhecida escola da Historiografia das Relações Internacionais, a tradição francesa, que tem bases consolidadas principalmente nos trabalhos de Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle (Tout Empire Périra, Ed. Armand Colin 1967; 1994; 2002). 

Apoiando a clara distinção que se observa na historiografia inglesa de relações internacionais entre os conhecidos conceitos de “sistema internacional” e “sociedade internacional”, alicerçando-os, está a interpretação histórica e o conceito de ordem, o qual, compreende uma finalidade, organizando uma série de objetivos específicos. 

Seja ela imediata e hierárquica como nos sistemas imperiais ou mesmo anárquica, sem a especificidade de um centro de poder, como no sistema europeu emergente depois da paz de Westfália, a ordem é uma característica imprescindível aos sistemas internacionais históricos. A sociedade de Estados caracteriza-se pela ideia da existência de um fio de interesses comuns ligados entre si. Os próprios Estados têm todo interesse na manutenção desta ordem internacional. 

A tendência ao ordenamento, que emana da construção e expansão da sociedade internacional no tempo, nos vem desde a obra inspiradora de Hedley Bull em 1977 (A Sociedade Anárquica FUNAG, 2002), encontra eco nos esforços de Adam Watson nos anos 1980, e a incorporação de visões como as de Barry Buzan (A Evolução dos Estudos de Segurança Internacional SP: Ed UNESP 2012) e Richard Little e John Williams (The Anachical Society in a Globalized World 2006 sublinhando, nas entrelinhas, a sua ontologia histórica.

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