terça-feira, 5 de abril de 2022

ARTIGO - Impasse e Oportunidade (RMR)

 IMPASSE E
OPORTUNIDADE
Rui Martinho Rodrigues*
 

 

A duração da guerra da Ucrânia aparentemente será longa. A progressão das tropas russas é lenta. Não há desânimo dos ucranianos, que por sua vez não avançam, os invasores não são expulsos. Uma longa conflagração não interessa às partes nem ao mundo. Restrições econômicas e obstáculos decorrentes do conflito, como a falta de semeadura da próxima safra na Ucrânia (exportadora de grãos), embargo das exportações russas de alimentos e minérios prejudicam a todos. Sanções elevam o preço de bens, cortam cadeias de produção e distribuição de bens. A Europa sofrerá se o fornecimento de gás da Rússia for interrompido, a alta dos preços das exportações russas (petróleo, trigo, cobre, níquel) atinge a todos, que já estavam fragilizadas pela pandemia, tendo ainda “sequelas” da crise de 2008.

As grandes economias expandiram os meios de pagamento para enfrentar as crises de 2008 e da pandemia (inspiração nem sempre fiel a John M. Keynes, 1883 – 1946). O Presidente Biden estimulou a economia americana pelos gastos públicos, com destaque para a modernização dos meios de transporte. O desequilíbrio fiscal crônico foi agravado nos EUA e no mundo. 

Até o Japão e os EUA têm dívidas astronômicas. A elevação dos juros, consequência da inflação causada pela escassez provocada por sanções impostas à Rússia, Belarus, Irã, Venezuela que atingem terceiros países. O aumento dos meios de pagamento gerou uma bolha de tudo, muito maior do que a bolha imobiliária de 2008. Uma crise financeira sem precedentes é uma hipótese a ser considerada. O presidente Biden ameaçou os chineses com sanções. A dependência do mundo aos fornecimentos da China e a falta fariam que as exportações para a “Terra do Meio” seriam um golpe terrível para o mundo, inclusive para os EUA. 

Chineses são os maiores investidores e mutuantes. O presidente dos EUA não ignora estes fatos. Biden estaria blefando? Pequim não se deixaria enganar por ameaças vãs. Estaria ele escolhendo o caminho do caos? O dólar será fragilizado por tantas sanções impostas a tantos e tão importantes países. A Arábia Saudita e os emirados árabes foram desprestigiados pelos EUA com o veto a venda de cem bilhões de dólares em armas para aqueles países e condenou os sauditas na guerra do Iêmen, enquanto tenta uma aproximação com o Irã. O governo de Riad reagiu: decidiu vender petróleo aos chineses mediante pagamento com a moeda daquele país. O congelamento das divisas russas nos bancos ocidentais estimula a diversificação dos depósitos em bancos de diferentes países, favorecendo os chineses. 

Uma grave crise do dólar e a substituição da moeda americana, prejudicaria os credores da dívida americana, como fez a Alemanha nazista? Ou os EUA estariam apenas desvalorizando o dólar para estimular a substituição de importações e reindustrializar o país? A Europa está flexibilizando a legislação ambiental para substituir importações. O abandono das vantagens comparativas (David Ricardo, 1772 – 1823) pela substituição das importações é desvantajoso sob vários aspectos. Mas a dependência gerada pela integração econômica é um risco estratégico evidenciado pela crise. 

As finanças internacionais ainda são influenciadas pelos acordos de Bretton Woods (1944), quando a economia mundial estava fragilizada pela guerra e a economia dos EUA passava por grande expansão. Estará o governo dos EUA escolhendo uma saída que lhe traga alguma vantagem? Crises são impasses e oportunidades. A eleição do caminho a seguir pode decisiva. A substituição de importações também pode nos ser conveniente.

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