segunda-feira, 12 de setembro de 2022

NOTA ACADÊMICA - Tributo a Augusto Pontes

TRIBUTO
A
AUGUSTO PONTES

 

De tempos em tempos surge no Ceará uma figura excêntrica que se populariza por sua excepcional inteligência, e que passa como um cometa marcando para sempre o nosso firmamento cultural.

Ainda em meados do Século XIX surgiu em Fortaleza a figura excêntrica de Manoel Cavalcante Rocha, que se popularizou como Manezinho do Bispo, por ser residente e funcionário do palácio episcopal. 

De poucos estudos, entretanto um apaixonado pelas letras, criador de frases filosóficas de cunho social ("Bacharel pobre que casa com moça pobre dá um tiro com a pistola do passado nos miolos do futuro"), que produzia e registrava poemas ingênuos, sem obedecer a norma culta – até porque não a dominava  antecipando-se ao que se faz hoje com os chamados "versos livres", ou "versos brancos", ou "versos soltos". Pena que sua obra burlesca tenha sido descartada por ele mesmo, a mando de Sua Exa. Reverendíssima o Bispo Dom Joaquim.

Já no princípio do Século XX apareceram dois outros intelectuais excêntricos no cenário literário da Cidade. Raimundo Ramos de Paula Filho, o Ramos Cotoco, assim agnominado por ter nascido sem um dos antebraços – poeta, compositor musical, artista plástico – hoje nome de rua em Fortaleza. 

No mesmo período Fortaleza conheceu Raimundo Varão, um tipo excêntrico e um vate inspiradíssimo, polidáctilo (tinha seis dedos em cada mão), e tinha como animal de estimação um enorme sapo. Foi descrito pelo imortal da Academia Cearense de Letras Otacílio de Azevedo, pai do Nirez e do Sânzio de Azevedo, que o conheceu de perto. 

Já nos anos 30 tivemos o advogado, poeta, escritor e político Quintino Cunha, natural de Itapajé, que dá nome a um dos bairros de Fortaleza. Orador exímio e de estilo irreverente, alimentou o anedotário da cidade, portanto foi o precursor do notório gênio satírico cearense.      

O mais recente desses fenômenos foi o filósofo e boêmio Francisco Augusto Pontes (1935-2009), mentor da safra de jovens compositores cearenses dos anos 70 do século passado, o chamado "Pessoal do Ceará", que demandaram ao Sudeste e brilharam no cenário artístico nacional. 

Compõem esse rosário de menestréis e rapsodos que compuseram o fundo musical daquele período glorioso para as artes cearenses – a partir do festival Massafeira Livre (Teatro José de Alencar, entre 1978 e 1980) – os compositores Ednardo, Fagner, Belchior, Rodger Rogério, Téti, Fausto Nilo, Ricardo Bezerra, Brandão, Petrúcio Maia, dentre outros. 

A alguns deles Augusto Pontes emprestou textos ou frases para as letras de suas canções – além de estímulo e inspiração, obstinado que era pela produção de arte que fosse autêntica e inovadora. 

Notívago inveterado, onipresente nas mesas boêmias de Fortaleza, ele aparecia nas rodas noturnas da Praça do Ferreira, levantando suas teses de filosofia aplicada, assim também nos bares frequentados por músicos e poetas, os points culturais daquela época. 

Foi organizado por Ricardo Bezerra um livro composto por textos dos que conviveram com Augusto Pontes, lançado em maio deste ano, intitulado "O Amigo Genial".

Logo depois foram homenageados Ednardo, Fagner, Fausto Nilo e Blechior (in memoriam) pela ACLJ, e em seguida, os acadêmicos Wilson Ibiapina e Ulysses Gaspar propuseram um tributo ao Augusto Pontes, para agraciar, inclusive, o Rodger Rogério e a Téti – casal que na época reunia em sua casa os demais compositores para saraus musicais e para ensaios. 

Ednardo, em parceria com o músico Calé Alencar, compôs uma nova canção para apresentar em avant première durante o evento, uma verdadeira ode ao seu grande amigo, que será objeto da homenagem.

A ACLJ, portanto, chegou a marcar essa festa da memória e convidar os interessados no cenários musical cearense, os que viveram aquele período dos anos 70 e são fãs dos seus protagonistas musicais  e, principalmente, os que conheceram Augusto Pontes.

Todavia, em virtude do período eleitoral, visando evitar qualquer manifestação política por parte do público, na preservação da laicidade regimental e isenção partidária da ACLJ, preferimos adiar sine die o grande evento, para a data futura (ainda neste ano) em que for oportuno realizá-la.    

        


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