quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

ARTIGO - O Totalitarismo em Gestação (RMR)

 O TOTALITARISMO
EM GESTAÇÃO
Rui Martinho Rodrigues*
 


As novas tecnologias potencializam o controle dos cidadãos pelo poder estatal e agentes não estatais, como as big techs. Câmeras omnipresentes, invasão de computadores, intimidades devassadas por meios mais poderosos do que a “teletela” da ficção “1984”, de Georg Orwell (Eric Arthur Blair, 1903 – 1950), com reconhecimento facial, ao lado dos meios eletrônicos de pagamento e de outras transações são convite totalitário. 

A complexidade do mundo afasta a compreensão dos problemas pelo homem comum e até por especialistas. Em torno destes problemas se fazem políticas públicas. Quantos compreendem uma reforma tributária, a matriz energética, a preservação ambiental ou políticas sanitárias? Profissionais altamente qualificados divergem entre si. Então a prestidigitação explora uma adolescente de família economicamente bem situada, de país que já conquistou uma condição das mais favoráveis para discorrer sobre o que ela não entende, adotando atitudes que não podem ser massificadas. Viajar da Europa aos EUA em barco a vela, como fez a adolescente sueca Greta Thunberg, não é exemplo do que pode substituir o avião. O mundo não pode seguir tal figurino. A complexidade e a manipulação emocional, porém, abrem a porta da manipulação. 

Graves ameaças reais são argumentos que podem ser usados pelos que pedem mais poder, mais controles invasivos, mais restrição das liberdades individuais. Terrorismo, evasão de divisas, corrupção, enriquecimento ilícito, tráfico de drogas, pessoas e armas são ameaças tão reais e perigosas quanto pandemias devastadoras. O poder crescente da criminalidade vulgar, controlando territórios, impondo “leis”, quebrando o monopólio da violência e do controle territorial pelo Estado são aflições dramaticamente sentidas pelo homem comum. Tudo favorece a vontade de potência referida por Friedrich Nietzsche (1844 – 1900).

As novas tecnologias são tão poderosas que permitiram, aliadas a outros fatores, a imposição de censura ao presidente dos EUA por uma big tech. Texto do primeiro ministro da Hungria, Viktor Mihaly Orbán (1963 – vivo), descrevendo os efeitos da imigração em massa em seu país, também foi censurado. Redes sociais, tribuna oferecida democraticamente a todos, são atacadas. O pretexto são as mentiras que nelas são divulgadas, como se as mentiras e a técnica de manipulação por meio do destaque, da repetição, do ângulo apresentado e da omissão não fossem praticadas pelas mídias tradicionais. O argumento de autoridade, com seus especialistas, títulos e entidades renomadas, invocando em vão o “santo nome da ciência”, como se tal espécie de conhecimento fosse unívoco, doutores sempre fossem doutos e consensuais em suas opiniões, não passa de falácia. 

As mídias tradicionais são mais perigosas do que as redes socais. Dominam melhor as técnicas de manipulação. Os grandes perigos são reais, mas o uso deles pelo messianismo “do bem”, restringindo a liberdade de expressão e de crítica, ferindo a liberdade de consciência, lembra a aparência do “anjo de luz”, que se apresenta como a encarnação das virtudes, querendo poder para fazer o bem, semelhantes aos “falsos profetas que enganarão a muitos” (Mt 24;11). 

Um poder absoluto, sem a representatividade do voto popular, como é o STF, aplicando pena sem prévia cominação legal (proibindo alguém falar), invocando tipo penal inexistente (fake news), mudando de entendimento conforme a ocasião por meio de contorcionismo hermenêutico é engano. O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente (John Dalberg-Acton, 1834 – 1902).

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