COMÉDIA BRASILEIRA
Por Paulo Maria de Aragão (*)

Balzac, sempre
atormentado, no torvelinho de compromissos literários e às voltas com credores,
chegou a alimentar a ideia de morar no Brasil longínquo. No entanto, a bem-amada condessa Eveline
Hanska o dissuadiu do intento de abandonar a França. Concretizado esse intento,
contaria com vasto universo social de escândalos, permitindo-lhe escrever uma
comédia inexcedível, mesmo antes da fuga da família real e da corte portuguesa
para o Brasil Colônia.
Naqueles
anos mais distantes, já não faltavam estripulias, mexericos, intrigas, blefes e chantagens
palacianas. Hoje, guardadas as proporções entre as épocas, comparáveis a
multifacetados escândalos urdidos nos bastidores do reinado de Brasília, onde personagens
se nivelam a um só tempo – autores e atores de óperas bufas, salvo alguns
políticos respeitados, outros nem tanto.

Esta é a nossa
realidade infensa aos valores republicanos e morais –digna de ser descrita
por um romancista, como uma singular comédia, sem que pudesse superar, por
óbvio, “A Comédia Humana”, a maior fusão com a vida real conseguida na literatura
por um gênio chamado Balzac.
(*) Paulo Maria de Aragão
Titular da Cadeira de nº 39 da ACL.
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