ESG E
A NECESSIDADE
DO P+
Carlos Rubens Alencar*
A sigla ESG (Environmental, Social e Governance)
se tornou conhecida em 2004, quando Kofi Annan, então Secretário
Geral da ONU, estimulou e desafiou, juntamente com o Banco Mundial, cinquenta
CEOs de grandes instituições financeiras a incorporar fatores ambientais,
sociais e de governança nas análises de mercado, além do retorno financeiro.
Como resultante surgiu o relatório “Who Cares Wins” (Ganha quem se
importa), o mundo virou de ponta cabeça e nunca mais foi o mesmo.

Essa é, portanto, uma pauta muito contemporânea, e me lembra de momentos na minha adolescência, no início dos anos 70, quando eu ia ao Rio de Janeiro passar férias. Naquela época adorávamos os shows que aqui não chegavam, o Posto 9 e suas “tangas” maravilhosas, as batidas de maracujá no Bip-bip, e certamente “dar um pulo” ao famoso cruzamento da Ipiranga com Avenida São João.
As idas do Rio a São Paulo, pelos maravilhosos ônibus da Viação Cometa, eram sempre motivo de grande expectativa. Afinal, íamos para a nossa maior metrópole e à síntese do que tínhamos de grandeza.
Naquela época, vivíamos tempos do “o sonho não acabou” e a aproximação da cidade de Cubatão era sempre um momento de grande reflexão, porque o céu perdia a cor e tudo ficava muito cinza. Era a poluição, e ainda não sabíamos o que fazer com ela.
Em 1972, foi realizada a primeira conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente em Estocolmo, sendo considerado o primeiro evento global sobre o assunto. Em 1988, foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, IPCC, pela ONU e pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas, avaliações científicas regulares sobre mudanças do clima, suas implicações e riscos futuros.
Em 1992, no Brasil, estávamos reconstruindo
a nossa democracia e, acreditem nisto, despertamos o mundo para as questões
ambientais, com a realização no Rio de Janeiro da 2ª Conferência das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, a ECO-92. Essa reunião, capitaneada pelo então
presidente Fernando Collor de Mello, foi a largada definitiva para a
conscientização ambiental em todo o mundo.
O fato é que muitas águas rolaram, e hoje temos as práticas e critérios de ESG avançando bastante na sociedade e, sobretudo, nas empresas mais organizadas. Certamente é um caminho muito longo, mas que vem tendo uma grande aceitação em todos os segmentos que entendem a importância do desenvolvimento sustentável.
Paralelamente, vem se exacerbando uma
movimentação da “Classe Média de Oslo” (Jessé de Souza, 2017, A Elite do Atraso), uma parcela muito
importante da sociedade “que demonstra uma enorme preocupação com as questões
da sustentabilidade e de direitos dos animais, mas que negligenciam a questão
central da miséria e da desigualdade, que são os principais problemas do país”.

Ano passado, tive a oportunidade de participar de um curso de educação executiva no famoso Imperial College em Londres. Em um dos painéis, a Professora Dra. Gbemi Oluleye levou todos a refletirem sobre a adoção e difusão de inovações limpas, visando a descarbonização das indústrias de forma econômica.
Em uma das dinâmicas coordenadas por ela, surgiu a questão do ESGP+, e atualmente acredito que os fatos estão sinalizando para o avanço dessa compreensão.
Nesse
processo de construção e aumento constante de regulações ambientais, acredito
que o ESG necessita evoluir e incorporar mais uma letra, no caso o “P+”, pois
como o acrônimo é na língua inglesa, necessitamos de “P” de People (povo), que enfatize e realce a
importância do ser humano como o elemento central dos critérios e práticas
concebidas para termos a verdadeira sustentabilidade implementada e
compreendida em nossa sociedade.