quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

POESIA - Dois Sonetos (VM - MC)

 DOIS SONETOS
DECASSILÁBICOS PORTUGUESES
Quartetos de Vianney Mesquita*  
Tercetos de Márcio Catunda*

  

ALIMENTAR-SE

A fome é mãe da saúde. (HIPÓCRATES)

Ser famulento é meu perene vezo,
Incluso espesso e apetitoso bródio,
Com mui escasso cloreto de ódio,
A fim de não tornar meu ventre obeso.
 
O receio, entretanto, é meu custódio,
Pois, jamais, adentrei o sobrepeso,
Sequer experimentei de um corpo teso,
E em tempo algum renunciei ao pódio.
 
O homem, desde que foi troglodita,
Padece a gula de Pantagruel.
E mitocôndria viva fagocita.
 
A verdadeira fome vem do céu:
É a ânsia de saber que nos habita
E sabe o favo doce de hidromel.

 

 

LEITURA DOS FLORILÉGIOS

Lemos muito mal o mundo e dizemos, depois, que ele nos engana.

(RABINDRANATH TAGORE).

 

Ao compulsarmos as crestomatias,
Vemos escritos de vários jaezes.
São coletâneas – certamente, as prezes,
Por te achegarem às antologias.
 
Múltiplos temas, ganhos e reveses,
Os sentidos em que jamais tu crias,
Estas seletas subtraem as lias,
Ao, da verdade, aportarem asceses.
 
Se o manuscrito é ramo da memória,
É o existir de um código verbal.
Não há sem esqueleto lexical
 
Humana consciência nem história;
Sendo o sintagma do signo vital
Escrito com grafite mineral.



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