ESTÃO CHAMANDO NOSSA TURMA
Por Wilson Ibiapina*
Num domingo, pela manhã, o telefone tocou em minha casa. Era o
Tozim, direto de Ubajara. Fiquei contente com a ligação. Era um amigo de
infância que eu não via havia mais de 40 anos. Nos cumprimentamos, e ainda surpreso
perguntei como foi lembrar de mim, depois de tanto tempo.
– Foi o Florival que
sugeriu ligar pra você. Estou precisando de um som para animar as festas que
promovo na Serra, e o Florival disse que você pode mandar um.
Não só comprei o desejado som como saí de Brasília e fui até à Serra da Ibiapaba fazer a entrega pessoalmente. A viagem de Fortaleza até Ubajara foi feita na camioneta do Rubens Soares Costa. Cunha Júnior nos acompanhou.
Durante a viagem fui lembrando da figura do Tozim. Ainda
adolescente, de férias em Ubajara, gostava de ouvir o som do bumbo da banda
do município. Bum!!... Bum!!! Era o Tozim chamando os músicos para o
ensaio da banda. O som ecoava por toda a pequena cidade. Tozim tocava tarol.
Tozim, exímio baterista, era irmão do João Benício, saxofonista,
filhos de seu Valentim. Ele jogava no time da cidade formado pelo Florival
Miranda, o dono da bola e das camisas. Quando não era escalado, Tozim chorava
feito criança.
Nesse tempo, um outro programa que fazíamos era
invadir os sítios que ficavam na periferia da cidade para roubar mangas, jacas,
goiabas, e chupar cana, quebrada no pé, para desgosto dos proprietários.
Geralmente éramos perseguidos pelos empregados dos sítios, que usavam
espingardas com tiro de sal. Barriga cheia, e depois dessa carreira, fugíamos
para o banho de rio. Água gelada, que só a coragem e a audácia da idade nos
faziam enfrentar com a maior naturalidade. Da turma, restam poucos.
Já se foram
o Gregório Aragão, o Dário Cunha, o Dário Macedo, o George e o Lincoln Vasconcelos; o Versiani e o Pedro Chico; Toinho do seu Chico Pinto e Salustiano, que diziam que
era ladrão em outras cidades, e se refugiava em Ubajara.
Agora, o Rubens liga para informar que o Tozim também se foi. O
Florival conta que ultimamente ele trabalhava como empresário de bandas. Uma
delas, a banda Ases do Planalto, do Zequinha do seu Gabriel. Usava o som que
lhe dei para movimentar as festas.
Ia tudo bem até que um dia levou um tombo, quebrou uma perna, e
ficou meses numa cama, e depois andando de muletas. Fez promessa para São
Francisco. Estava com 73 anos de idade quando viajou a Canindé. A emoção foi
grande. Foi traído pelo coração logo que saiu da igreja. Florival garante que
ele morreu sem dever nada a ninguém. Até a promessa ele pagou.
*Wilson Ibiapina
Jornalista
Sucursal de Brasília
do Sistema Verdes Mares
Titular da Cadeira
de nº 39 da ACLJ
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