quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CRÔNICA

ESTÃO CHAMANDO NOSSA TURMA
Por Wilson Ibiapina*


Num domingo, pela manhã, o telefone tocou em minha casa. Era o Tozim, direto de Ubajara. Fiquei contente com a ligação. Era um amigo de infância que eu não via havia mais de 40 anos. Nos cumprimentamos, e ainda surpreso perguntei como foi lembrar de mim, depois de tanto tempo. 

– Foi o Florival que sugeriu ligar pra você. Estou precisando de um som para animar as festas que promovo na Serra, e o Florival disse que você pode mandar um.

Não só comprei o desejado som como saí de Brasília e fui até à Serra da Ibiapaba fazer a entrega pessoalmente. A viagem de Fortaleza até Ubajara foi feita na camioneta do Rubens Soares Costa. Cunha Júnior nos acompanhou.

Durante a viagem fui lembrando da figura do Tozim. Ainda adolescente, de férias em Ubajara, gostava de ouvir o som do bumbo da banda  do município. Bum!!... Bum!!!  Era o Tozim chamando os músicos para o ensaio da banda. O som ecoava por toda a pequena cidade. Tozim tocava tarol. 

No dia de uma dessas convocações, o Expedito, membro da banda, jogava sinuca no bar do Pedro. Como ele fez que não ouvia a chamada, perguntei se ele não iria ao ensaio.  E ele, sem soltar o taco nem olhar para mim, disse que estava doente, com os lábios inchados de picada de abelha, e que não iria. Até hoje não entendo a desculpa. Expedito tocava pratos na banda.

Tozim, exímio baterista, era irmão do João Benício, saxofonista, filhos de seu Valentim. Ele jogava no time da cidade formado pelo Florival Miranda, o dono da bola e das camisas. Quando não era escalado, Tozim chorava feito criança. 

Nesse tempo,  um  outro programa que fazíamos era invadir os sítios que ficavam na periferia da cidade para roubar mangas, jacas, goiabas, e chupar cana, quebrada no pé, para desgosto dos proprietários. Geralmente éramos perseguidos pelos empregados dos sítios, que usavam espingardas com tiro de sal. Barriga cheia, e depois dessa carreira, fugíamos para o banho de rio. Água gelada, que só a coragem e a audácia da idade nos faziam enfrentar com a maior naturalidade. Da turma, restam poucos. 

Já se foram o Gregório Aragão, o Dário Cunha, o Dário Macedo, o George e o Lincoln Vasconcelos; o Versiani e o Pedro Chico; Toinho do seu Chico Pinto e Salustiano, que diziam que era ladrão em outras cidades, e se refugiava em Ubajara.

Agora, o Rubens liga para informar que o Tozim também se foi. O Florival conta que ultimamente ele trabalhava como empresário de bandas. Uma delas, a banda Ases do Planalto, do Zequinha do seu Gabriel. Usava o som que lhe dei para movimentar as festas.


Ia tudo bem até que um dia levou um tombo, quebrou uma perna, e ficou meses numa cama, e depois andando de muletas. Fez promessa para São Francisco. Estava com 73 anos de idade quando viajou a Canindé. A emoção foi grande. Foi traído pelo coração logo que saiu da igreja. Florival garante que ele morreu sem dever nada a ninguém. Até a promessa ele pagou.

     *Wilson Ibiapina
             Jornalista
     Sucursal de Brasília
 do Sistema Verdes Mares
     Titular da Cadeira
      de nº 39 da ACLJ







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