Acerca do Soneto
Verdade e Razão
Ana Paula de Medeiros Ribeiro*
Manda a perfeita
razão que evitemos os extremos e sejamos sensatos e sóbrios. JEAN BAPTISTE POQUELIN, dito MOLIÈRE, dramaturgo e ator.
(Paris, 15.01.1622; 17.02.1673).
Não é possível ensinar a verdade àqueles cujos pensamentos são mesquinhos. FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE, intelectual prussiano multiface (Röcken, Lützen, 15.10.1844; Weimar, 25.08.1900.
Certas tuberculoses das ideias
Semelham à sífilis do raciocínio,
Conforme as quais têm curso panaceias
Contra o mal afrontando o tirocínio.
Inverdadeiro, pérfido escrutínio,
Irracional – desrazões giganteias –
Onde, ufano e vencido, o predomínio
Remanesce ao viso das plateias.
Ser sábio e sóbrio ao senso do seu siso
Compreende Molière que é preciso;
Notar, com exatidão, todos os Zeus.
Mesquinho é abjurar verdade em Freud,
E, mais, nos transmutar em debiloide,
Negaceando as dicções de Deus!
O belo texto, assinado pelo mestre Vianney Mesquita, poeta e escritor palmaciano, é um soneto composto por versos decassilábicos e rimas consonantes. O estilo é elevado, reflexivo e contundente, recorrendo à erudição, à crítica intelectual e ao resgate de figuras centrais do pensamento ocidental. Há pitadas de ironia na maneira como o autor denuncia falsos raciocínios e a negação da verdade em tempos de irracionalidade.
Desde o título, Verdade e Razão, já se antecipa que o conteúdo do poema trata da lógica, da procura pela verdade e dos princípios da racionalidade. Ao percorrer a trilha argumentativa contida nos catorze versos, percebemos uma linguagem fortemente erudita, ao estilo inconfundível de Sir Vianney. Destacam-se, além das riquíssimas construções linguísticas, duas analogias interessantes: “tuberculose das ideias” e “sífilis do raciocínio”. Aqui o autor se vale de termos que descrevem patologias graves e os transfere, de modo metafórico, para o terreno do pensamento, sugerindo que ideias lógicas doentes comprometem a sanidade intelectual.
Vianney Mesquita
denuncia que as construções corrompidas ganham corpo, espaço e até simpatia das
plateias. O poeta, contudo, evocando Molière, assevera que é preciso ser sábio
e sóbrio. O poema conclui com uma crítica vigorosa à recusa da Psicanálise
(representada pela menção a Sigmund Freud) e, sobretudo, à negação da Verdade
Divina, o que, em sua visão, conduz à decadência moral e intelectual.
Verdade e Razão é um texto que nos leva a refletir sobre a atualidade, especialmente
nestes tempos nos quais assistimos à degradação do pensamento racional, à
relativização do conhecimento e à banalização da verdade. Com precisão,
elegância e crítica, Vianney Mesquita reafirma, neste soneto, a importância de
cultivar o pensamento lúcido, o espírito analítico e o compromisso com a
verdade, valores que, infelizmente, se tornam cada vez mais raros.
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