sexta-feira, 18 de abril de 2025

CRÔNICA - Semana Santa Prolongada e Pagã (GT)

 SEMANA SANTA
PROLONGADA E PAGÃ
George Tabatinga*

 

Na primeira metade da década de 80, já casado, pai de dois filhos, bancário numa cidade no interior do Ceará, distante de Batalha, Piauí, minha terra natal, cerca de 700 quilômetros, estava feliz da vida com o tão esperado feriado da Semana Santa. 

Oportunidade de uma viagem com a família para visitar meus entes queridos, rever amigos de infância – a maioria deles já como pais de família – comer milho assado no fogão à lenha e me banhar nos diversos locais como Barragem, Bela Vista e os riachos da redondeza. Mas de todos esses locais, o Olho d’Água d’Areia era o mais frequentado, pois pertencia à nossa família e era ideal para a criançada. 

Naquele tempo a Quinta-feira Santa ainda era feriado bancário, então tínhamos quatro dias de folga para aproveitar ao máximo. E se fosse o ano de 2025, em que o feriado de Tiradentes é na segunda-feira, após o Domingo de Páscoa? Seriam cinco dias... 

Mas, calma. Além de ser rara a coincidência do calendário litúrgico com o gregoriano, desde o ano 2000 que a “Quinta Santa” não é mais feriado oficial. A última vez em que o Dia da Páscoa aconteceu em 20 de abril foi no ano de 1851, e vai ser este ano também. Nem queiramos saber quando haverá a repetição. 

Naquele ano um surto de conjuntivite – inflamação da membrana fina e transparente do globo ocular, causada por vírus, bactérias e outros – alastrava-se pelo Nordeste.

Na manhã do sábado daquele “feriadão”, reunidos debaixo de frondosas mangueiras, piscina transparente e natural daquele banho maravilhoso, entre um mergulho e um gole de cerveja, e muita animação, me veio a “brilhante ideia” de contaminar meus olhos a partir do olho de um dos primos acometido da doença, na tentativa quase perfeita de adquirir aquela virose e obter justa causa para alongar o feriado. 

Ledo engano, pois o capeta não me ajudou nessa empreitada. Após o farto almoço com toda a família no Domingo de Páscoa, ainda de ressaca, estava eu arrumando as malas dentro do meu Fusca, cor “Ocre Marajó”, para enfrentar a viagem de volta ao Ceará. 

Primeiro, os 80 quilômetros de piçarra e trepidação, até pegar o asfalto, sendo 350 para Fortaleza e mais 180 até a cidade de Jaguaruana, à beira do Rio Jaguaribe. Um merecido castigo por não respeitar os preceitos que me regem como Cristão!


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