sexta-feira, 27 de junho de 2025

CRÔNICA - ESG e a Necessidade do P+ (CRA)

 ESG E
A NECESSIDADE
DO P+
 Carlos Rubens Alencar*


A sigla ESG (Environmental, Social e Governance) se tornou conhecida em 2004, quando Kofi Annan, então Secretário Geral da ONU, estimulou e desafiou, juntamente com o Banco Mundial, cinquenta CEOs de grandes instituições financeiras a incorporar fatores ambientais, sociais e de governança nas análises de mercado, além do retorno financeiro. Como resultante surgiu o relatório “Who Cares Wins” (Ganha quem se importa), o mundo virou de ponta cabeça e nunca mais foi o mesmo.

 

Essa é, portanto, uma pauta muito contemporânea, e me lembra de momentos na minha adolescência, no início dos anos 70, quando eu ia ao Rio de Janeiro passar férias. Naquela época adorávamos os shows que aqui não chegavam, o Posto 9 e suas “tangas” maravilhosas, as batidas de maracujá no Bip-bip, e certamente “dar um pulo” ao famoso cruzamento da Ipiranga com Avenida São João.  

As idas do Rio a São Paulo, pelos maravilhosos ônibus da Viação Cometa, eram sempre motivo de grande expectativa. Afinal, íamos para a nossa maior metrópole e à síntese do que tínhamos de grandeza. 

Naquela época, vivíamos tempos do “o sonho não acabou” e a aproximação da cidade de Cubatão era sempre um momento de grande reflexão, porque o céu perdia a cor e tudo ficava muito cinza. Era a poluição, e ainda não sabíamos o que fazer com ela. 

Em 1972, foi realizada a primeira conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente em Estocolmo, sendo considerado o primeiro evento global sobre o assunto. Em 1988, foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, IPCC, pela ONU e pela OMM (Organização Meteorológica Mundial), com o objetivo de fornecer aos formuladores de políticas, avaliações científicas regulares sobre mudanças do clima, suas implicações e riscos futuros.

Em 1992, no Brasil, estávamos reconstruindo a nossa democracia e, acreditem nisto, despertamos o mundo para as questões ambientais, com a realização no Rio de Janeiro da 2ª Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a ECO-92. Essa reunião, capitaneada pelo então presidente Fernando Collor de Mello, foi a largada definitiva para a conscientização ambiental em todo o mundo.

O fato é que muitas águas rolaram, e hoje temos as práticas e critérios de ESG avançando bastante na sociedade e, sobretudo, nas empresas mais organizadas. Certamente é um caminho muito longo, mas que vem tendo uma grande aceitação em todos os segmentos que entendem a importância do desenvolvimento sustentável.


Paralelamente, vem se exacerbando uma movimentação da “Classe Média de Oslo” (Jessé de Souza, 2017, A Elite do Atraso), uma parcela muito importante da sociedade “que demonstra uma enorme preocupação com as questões da sustentabilidade e de direitos dos animais, mas que negligenciam a questão central da miséria e da desigualdade, que são os principais problemas do país”.

Ano passado, tive a oportunidade de participar de um curso de educação executiva no famoso Imperial College em Londres. Em um dos painéis, a Professora Dra. Gbemi Oluleye levou todos a refletirem sobre a adoção e difusão de inovações limpas, visando a descarbonização das indústrias de forma econômica.

Em uma das dinâmicas coordenadas por ela, surgiu a questão do ESGP+, e atualmente acredito que os fatos estão sinalizando para o avanço dessa compreensão. 

Nesse processo de construção e aumento constante de regulações ambientais, acredito que o ESG necessita evoluir e incorporar mais uma letra, no caso o “P+”, pois como o acrônimo é na língua inglesa, necessitamos de “P” de People (povo), que enfatize e realce a importância do ser humano como o elemento central dos critérios e práticas concebidas para termos a verdadeira sustentabilidade implementada e compreendida em nossa sociedade.

sábado, 21 de junho de 2025

ARTIGO - A Crise dos Partidos (RMR)

 A CRISE DOS PARTIDOS
Rui Martinho Rodrigues*

 

1Considerações preliminares 

As agremiações partidárias, em todo o mundo, vivem uma grave crise. Os nomes tradicionais, como Partido Comunista, Partido socialista, Partido Democrata Cristão ou Partido Liberal estão desgastados e foram, em grande parte, substituídos por nomes que não indicam filiação a nenhuma tradição política. No Brasil temos Novo, Podemos, União Brasil; na Itália Irmãos de Itália, Movimento Cinco Estrelas, Forza Itália; Na Espanha Partido Popular, Vox, Sumar. Os nomes tradicionais ainda existem, mas com o poder de atrair filiados e votos bastante reduzido. 

O exercício do poder pelos partidos ligados às tradicionais fórmulas políticas, sociais, econômicas e jurídicas das correntes históricas, não satisfizeram o eleitorado. Fracasso econômico, fracasso no campo da segurança pública, não cumprimento de promessas, corrupção, opressão, indiferenciação quanto ao modo de governar e decepção com líderes explicam o desapontamento com os partidos tradicionais. 

2A crise das doutrinas 

Diferentes fatores interferem na vida das agremiações políticas em suas relações com as sociedades. América Ibérica, como Portugal e Espanha, tiveram a influência do patrimonialismo, com (i) a mistura do patrimônio particular dos integrantes do Poder com a fazenda pública e (ii) pelas lealdades pessoais com a troca de favores entre membros do patriciado como base de sustentação do poder, descritas por Raymundo Faoro (1925 – 2003), na obra Os donos do poder. Por isso a crise dos partidos tornou-se mais nítida nos países em que o patrimonialismo deixou marcas profundas. 

Os partidos, no Brasil, eram fracamente ligados às correntes políticas que invocavam em seus nomes. Nos idos do Império, A. Francisco de P. Cavalcanti de Albuquerque (1797 – 1863) já dizia que nada é mais parecido com um “Saquarema” (alusão aos conservadores) do que um “Luzia” (referindo-se aos liberais) no poder. Um ex-deputado cearense, da UDN, disse que a família dele tinha ido para a UDN porque os adversários estavam no PSD, conforme registrei no livro Talvez em nome do povo: uma legitimidade peculiar, feito como tese. 

A maioria dos eleitores, inclusive os filiados aos partidos, não sabiam com clareza qual era a doutrina política e social que dava nome aos partidos. Mas, embora não entendendo bem os rótulos, sentiram decepção diante das experiências com o exercício do poder por aqueles que diziam representar as correntes políticas. A decepção com os líderes impactou fortemente nos partidos e nas doutrinas. O personalismo na competição política contribuiu para isso. 

Linda Lewin (1942 – 1986), na obra Política e parentela na Paraíba, descreve as relações de parentesco e de amizade como prevalecendo sobre a doutrina alegadamente esposada pelos partidos. É um estudo sobre a Paraíba, com as suas particularidades, focado nos anos anteriores a mil novecentos e trinta. Mas apresenta alguns pontos comuns ao relato do ex-deputado citado por mim em Talvez em nome do povo. 

3A crise e a nudez da política 

Atribuem a Otto von Bismarck (1815 – 1898) a frase segundo a qual as pessoas não deveriam saber como as linguiças e as leis são feitas. De repente, não mais que de repente, como diria o nosso poeta Vinícius de Moraes (1913 – 1980), surgiram as redes sociais. Avanços anteriores nas formas de registro e divulgação de fatos e ideias provocaram grandes abalos. O advento de rádio é considerado por muitos como uma contribuição significativa para o surgimento de uma geração de líderes populistas e autoritários, como Vargas (1882 – 1954); Peron (1895 – 1974); Franco (1892 – 1975); Mussolini (1883 – 1945). 

O enciclopedismo e a imprensa já foram relacionados com a Revolução Francesa e um ciclo de revoluções que Eric Hobsbawm (1917 – 2012), deu o nome de A era das revoluções, em uma obra assim intitulada. A era digital, com as redes sociais, não poderia ter um impacto menor do que o rádio, as enciclopédias ou os jornais. Por meio delas o povo passou a saber como se fazem as linguiças e as leis, portanto, com é a dinâmica da política e dos governos. Daí o desejo de censurá-las, para que o povo possa saber como são feitas as linguiças, mas não as leis. Sim, as redes sociais não incomodam tanto pelas mentiras que contam, mas pelas verdades, conforme tem sido dito. 

4A falta que fazem os partidos


 

Partidos que não representam as doutrinas sob as quais se escondem. Mas, representam fielmente tradições políticas de péssimos antecedentes. Existem ainda os que não passam do que Linda Lewin nomeou como cooperativas de poder de parentelas ou do que Faoro relacionou com o patrimonialismo. Líderes deploráveis estimulam a revolta contra as agremiações políticas. Surgem então o desejo de votar em pessoas desvinculadas de tais agremiações, deixando-as à margem, achando que não fazem falta. 

Sucede que uma sociedade complexa não pode ser governada democraticamente se o povo não se fizer representar por partidos. Os cidadãos não têm propostas para os mais diversos problemas de interesse público, nem são capazes de realizar tais propostas. Quem saberia, solitariamente, formular programas destinados a orientar os setores de políticas sanitárias, de segurança pública, tributos, ambiental, agrícola, salarial e tantas outras? Isso só se faz partindo de uma organização. Outras instituições padecem de corporativismo ou de outras formas de particularismo ou de preparo para tanto. 

Os partidos, por sua vez, estão se mostrando incapazes de exercer o papel de legítimos canais de encaminhamento dos interesses e de defesa dos valores da sociedade. Ainda não encontramos uma forma de substitui-los ou os reabilitar. Isso pode ser um grave perigo. Uma crise insanável de legitimidade. 

Não faltam propostas de solução que podem agravar a crise, como candidatura independente, que fragilizaria os partidos, ao invés recuperá-los. A formação de uma ampla aliança do patriciado reuniria corruptos, grupos identitários amargurados e vingativos, de braços dados com a plutocracia e grupos sectários com a violência dos jacobinos.


terça-feira, 17 de junho de 2025

NOTA SOCIAL - Sobre a Nossa Cagece

 SOBRE A NOSSA
CAGECE

 

O jornalista e sociólogo Arnaldo Santos, Membro Titular Fundador da ACLJ, divide atualmente a sua atenção profissional entre a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), junto à Presidência desta, acompanhando os estudos realizados para ela, pela FGV. 


Arnaldo nos informa que Neuri Freitas encerra, neste ano, uma década à frente da Companhia, entidade que atende nada menos de 152 municípios, incluindo Fortaleza, dos 184 que formam o Estado do Ceará. Essa longa e exitosa gestão deixará importante legado administrativo àquela entidade, fruto de notória competência, marcada por grande salto em governança, inovação e tecnologia.

 

O Presidente Neuri se despede comemorando o aniversário de 55 anos de fundação da Cagece, deixando pronta e contratada a execução do ousado projeto de dessalinização de água do mar, que garantirá a segurança hídrica da população de Fortaleza, planta de engenharia que será construída pelo Grupo Marquise, no início da Praia do Futuro.   

sábado, 14 de junho de 2025

CRÔNICA - Um Segundo Atrás Tudo Ainda Estava em Paz (RV)

 UM SEGUNDO ATRÁS

TUDO AINDA ESTAVA
EM PAZ
Reginaldo Vasconcelos * 


Eu assisti extasiado, há alguns dias, a uma magnífica palestra, proferida por um dos mais bem sucedidos empresários do Ceará e do Brasil. No seu minucioso relato biográfico foi revelando como ele e o seu sócio perpétuo começaram a trabalhar, ainda quintanistas da faculdade que cursavam, e ficou claro que, um pouco de sorte e um grande aporte de esforço e competência lhes foram proporcionando a sua gradual evolução. 

Ao final da longa exposição sobre a abençoada trajetória do empresário, um dos quarenta convidados presentes pediu que o palestrante narrasse o acidente gravíssimo de que anos atrás ele foi vítima, infausto que na época sensibilizou a sociedade, todos solidários àquele ilustre personagem, tanto entre os seus próximos e mesmo entre os que o conheciam sem serem por ele conhecidos, exatamente no meu caso.

Então, o narrador, que vinha até ali desenvolvendo a linha do tempo sobre os felizes sucessos dos seus muitos negócios – passou a narrar a sua desditosa experiência que, em segundos, o mutilaria e transtornaria a sua vida para sempre. E todos ouvimos comovidos, como quem assiste em câmara lenta à cena dramática do acidente. 

Até que uma reflexão do narrador fez esplender na minha alma uma epifania filosófica sobre o curso do destino, imperscrutável e caprichoso. Disse ele: “Um passo a menos e nada me teria acontecido; um passo a mais, e eu seria partido ao meio”. 

Passou então a me interessar e comover o passo a mais que ele não deu, e que lhe garantiu a sobrevida, momento em que a graça de Deus lhe concedeu livramento, brindando-lhe a si e aos seus com sua permanecia em vida física. 

Pois, saindo do evento, refletindo comigo mesmo sobre a desventura e a ventura que em um segundo se revelam e surpreendem, no estacionamento de automóveis do prédio tropecei em algo e voei de corpo inteiro para o solo, de muito rude pavimento. Durante a longa fração de segundo em que eu me projetava, ouvi um coral de interjeições da multidão de circunstantes: “Ohhhhh!!!”. 



Mas eu caí em “apoio de frente”, as duas mãos plantadas no solo, e fiquei de pé imediatamente sem nenhuma consequência – a memória muscular ainda presente no velho praticante das ditas “artes marciais”.

Fixei na minha mente a imagem fotográfica do momento, e o som vigoroso dos meu anéis sobre o cimento. Talvez um segundo a menos na minha marcha e eu não teria tropeçado; um segundo a mais e me teria esborrachado. Então me ocorreu uma paráfrase da letra de famosa canção do Herbert Viana – “apenas um segundo atrás, tudo ainda estava em paz...”                

NOTA SOCIAL - Cid Carvalho é Homenageado

 CID CARVALHO
É HOMENAGEADO
PELA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROCURADORES E ADVOGADOS PÚBLICOS FEDERAIS

 

O Prof. Doutor Cid Saboia de Carvalho, na tarde desta sexta-feira, dia 13 de junho, recepcionou em sua casa uma comissão de senhoras que integram a Associação Nacional dos Procuradores e Advogados Públicos Federais (ANPPREV). 

O ilustre grupo jurídico veio de Brasília homenageá-lo com a outorga da medalha da “Comenda de Mérito Arnaldo Farias de Sá”, especialmente por sua brilhante atuação na Assembleia Constituinte de 1988, quando, Senador da República, ele atuou para a criação da Advocacia Geral da União e a estruturação da Defensoria e do Ministério Público Federal. 

Além de Senador Constituinte em 1988, veterano homem de imprensa, advogado, professor universitário, Dr. Cid é imortal da Academia Cearense de Letras, sócio do Instituto do Ceará – Histórico, Geográfico, Antropológico, e Presidente de Honra da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, ocupante da Cadeira de nº 1 da sua quadraginta numerati (patroneada por seu ilustre pai, o advogado e jornalista Jader de Carvalho, o 3º Príncipe dos Poetas Cearenses). 

 

Diploma, título e medalha lhe foram entregues pela Dra. Maria Santíssima Marques, Presidente da ANPPREV, em solenidade restrita à família e a amigos íntimos do homenageado – a sua mulher, Dona Luce, os filhos Antonino e sua Mulher Esther, Robério e Cid Filho (Cidinho). 

Além dos colaboradores afetivos da casa, convocados para o controle do portão e o serviço do sortido chá da tarde oferecido:  a Socorro, o Clairton, o Orlando, o Caetano e a Antonieta.

Dentre os amigos o Cauby Freire e sua mulher Regina, o Tufi Said, o Sérgio Braga, o polímata Jeová Mendes, os jornalistas Aureliano Ramos, da Rádio Cidade e Adriano Ribeiro, da Rádio Dom Bosco, e Reginaldo Vasconcelos, da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo.



Na imagem, as Procuradoras Federais aposentadas Maria Vilma Barros, representante da ANPPREV no Ceará, Meire Lúcia Gomes Mota, Presidente de Honra da ANPPREV Nacional, Dona Luce, a Presidente da ANPPREV, Maria Santíssima Marques, e Maria das Graças Macedo.

A equipe da TV Cidade tomou depoimento dos vários convivas, e a videomaker Cira Leona, da CL Produções, gravou um vídeo registrando uma entrevista entre a Presidente da ANPPREV, Dra. Maria Santíssima, e o homenageado, Dr. Cid Carvalho, para divulgação nas redes sociais das instituições e personalidades envolvidas na homenagem. 



ACIONE O LINK ABAIXO

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sexta-feira, 13 de junho de 2025

ARTIGO - Mais Vida Para o Fernando Mesquita! (CMA)

 MAIS VIDA PARA
O FERNANDO MESQUITA!
Cristiana Medeiros Aguiar*

 

  

Somente quando de tudo desesperamos é que a esperança começa a ser verdadeira força. (GILBERT KEITH CHESTERTON, escritor grãobritano. Kesington – Londres – UK – 29.05.1834; Beaconsfield (UK), 14.06.1936).


                     

Em 12 de junho de 2025, escrevi assim, no grupo de Watsaap (“Mesquitas”) que acompanha a extensa internação do médico-cirurgião cardíaco Fernando Antônio Mesquita, meu cunhado, no Hospital Regional da UNIMED, em Fortaleza, com doença cerebral de múltipla e imensa gravidade, quando seus parentes próximos o visitam e oram, constantemente, a Deus, a Sua Mãe e aos santos pela sua recuperação: 

– A gente acorda e vai direto para as notícias, na esperança de que a vida continue dando sinais de sua sacralidade; e ela dá, de um jeito ou de outro, ou que seja nos indicando que somos fortes no amor...

Acredito que, mesmo nesta Via Crucis, Fernando respira e se nutre nesta rede de afetos e cuidados que atravessa cada detalhe da sua luta.


Fernando Antônio Campos de Mesquita com Nenê, sua esposa e minha irmã.

Deus vai agindo, cuidando de soprar sobre nossos machucados e pondo-nos no colo, quando o desalento toma lugar. 

Prossigamos. A fé nos concede chão e o amor por Fernando vai costurando todas as coisas... 

Eis que um irmão dele (J.V.M) transpôs para o formato de soneto decassilábico lusitano o mencionado manifesto em português-prosa: 


Na esperança de grata novidade,
De que o viver restou sacralizado,
Pleno, desperta-se com ansiedade
De sob o amor seguir virtualizado.
 
A uma Via Crucis pespegado,
Por Divinal compulsoriedade,
Mesmo o Fernando hospitalizado,
Terá a remição desta Vontade.
 
Ao soprar Deus nos nossos machucados,
Ele age e acolhe em seu regaço
Quem ora é desjungido do abraço.
 
Quando se fortalecem tais cuidados,
E a fé se alteia em prol dos deserdados,
Eis que o Senhor cinge outra vez o laço... 

 

Hoje, 13.06.2025, me louvo na oportunidade a fim de expressar a noção de que minha fé vacila muito, quando quero entender ou explicar o que nos acontece, mas há uma certeza em mim, com a qual não discuto, nem sei de onde vem: estamos TODOS no colo de Deus! Não há distrações dEle quanto a nos amar e querer que sejamos cheios de graças. 

Nossa condição perecível e frágil de humanos nos deixa ante as contingências de estarmos no mundo e perpassados por ele. De tal sorte, somos suscetíveis. Os “acidentes” não assinalam a vontade de Deus. São permissões e, ainda assim, Ele supre e cuida. 

Essa rede de afetos e zelo que nos costura em torno do Fernando Mesquita faz parte dos unguentos que o Senhor derrama sobre as nossas dores. Estamos juntos. E cursa muito amor nestas doridas situações... 

Que viva mais o Dr. Fernando Antônio Mesquita!



 

ARTIGO - Acerca do Soneto Verdade e Razão (APMR)

 Acerca do Soneto
Verdade e Razão
Ana Paula de Medeiros Ribeiro*

                                                                          

 

Manda a perfeita razão que evitemos os extremos e sejamos sensatos e sóbrios. JEAN BAPTISTE POQUELIN, dito MOLIÈRE, dramaturgo e ator. (Paris, 15.01.1622; 17.02.1673).


Não é possível ensinar a verdade àqueles cujos pensamentos são mesquinhos. FRIEDRICH WILHELM NIETZSCHE, intelectual prussiano multiface (Röcken, Lützen, 15.10.1844; Weimar, 25.08.1900.

 

 Verdade e Razão

Certas tuberculoses das ideias
Semelham à sífilis do raciocínio,
Conforme as quais têm curso panaceias
Contra o mal afrontando o tirocínio.
 
Inverdadeiro, pérfido escrutínio,
Irracional – desrazões giganteias –
Onde, ufano e vencido, o predomínio
Remanesce ao viso das plateias.
 
Ser sábio e sóbrio ao senso do seu siso
Compreende Molière que é preciso;
Notar, com exatidão, todos os Zeus.
 
Mesquinho é abjurar verdade em Freud,
E, mais, nos transmutar em debiloide,
Negaceando as dicções de Deus!

 

O belo texto, assinado pelo mestre Vianney Mesquita, poeta e escritor palmaciano, é um soneto composto por versos decassilábicos e rimas consonantes. O estilo é elevado, reflexivo e contundente, recorrendo à erudição, à crítica intelectual e ao resgate de figuras centrais do pensamento ocidental. Há pitadas de ironia na maneira como o autor denuncia falsos raciocínios e a negação da verdade em tempos de irracionalidade. 

Desde o título, Verdade e Razão, já se antecipa que o conteúdo do poema trata da lógica, da procura pela verdade e dos princípios da racionalidade. Ao percorrer a trilha argumentativa contida nos catorze versos, percebemos uma linguagem fortemente erudita, ao estilo inconfundível de Sir Vianney. Destacam-se, além das riquíssimas construções linguísticas, duas analogias interessantes: “tuberculose das ideias” e “sífilis do raciocínio”. Aqui o autor se vale de termos que descrevem patologias graves e os transfere, de modo metafórico, para o terreno do pensamento, sugerindo que ideias lógicas doentes comprometem a sanidade intelectual. 

Vianney Mesquita denuncia que as construções corrompidas ganham corpo, espaço e até simpatia das plateias. O poeta, contudo, evocando Molière, assevera que é preciso ser sábio e sóbrio. O poema conclui com uma crítica vigorosa à recusa da Psicanálise (representada pela menção a Sigmund Freud) e, sobretudo, à negação da Verdade Divina, o que, em sua visão, conduz à decadência moral e intelectual. 

Verdade e Razão é um texto que nos leva a refletir sobre a atualidade, especialmente nestes tempos nos quais assistimos à degradação do pensamento racional, à relativização do conhecimento e à banalização da verdade. Com precisão, elegância e crítica, Vianney Mesquita reafirma, neste soneto, a importância de cultivar o pensamento lúcido, o espírito analítico e o compromisso com a verdade, valores que, infelizmente, se tornam cada vez mais raros.