sexta-feira, 29 de novembro de 2013

CRÔNICA

APANÁGIO DO BANHEIRO
DA JUS FACULTAS
Por Bráulio Ramalho*



Vivenciava-se a década de 70. Em convivência fraterna, descompromissada e divertida, alguns acadêmicos de Direito da Universidade Federal do Ceará frequentavam, após as aulas, os bares e restaurantes ao redor da Faculdade.

Nesses encontros, eram feitos poemas sobre os mais variados temas, a maioria dos quais jocosos e gracejadores. Comumente, os versos ironizavam a Faculdade e seu corpo docente, não obstante a Instituição possuir alguns dos melhores e mais renomeados mestres do País.

Certo dia em que se dirigia para um dos bares próximos, imbuído do espírito folgazão reinante, Márcio Catunda fez a primeira parte das sextilhas em homenagem ao banheiro da Faculdade:

        Márcio Catunda, na Espanha
"Nesse Montana esquisito,
onde senta o bacharel.
fazer força é um delito
sem recurso para o réu,
pois condena o douto aflito
Pela falta de papel".


De imediato, Vianney Mesquita completou o poema:

     Vianney Mesquita, em Portugal
"Em face desse dilema,
o bacharel passa mal.
Procura o "x" do problema
sem o dado principal,
montado todo o esquema,
quebra o galho com o jornal".

 
(RAMALHO, Bráulio E. P. Magistério Hilariante. Fortaleza, Expressão Gráfica, 2012, p. 69).
* Bráulio Eduardo Pessoa Ramalho é filósofo, advogado, Escritor e docente da UNIFOR e da UECE.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CRÔNICA

Por Altino Farias* 



De camisa colorida com motivos tropicais, compareceu ao primeiro dia de trabalho naquele belo, porém, modesto hotel. Antes de iniciar o expediente, trocou a camisa com estampa floral por um discreto terno, que lhe caía muito bem aos ombros. Assim estava habituado.

Problemas com a água quente, jardins, garagem, roupas de cama e banho, restaurante, bar, suprimentos, instalações elétricas e hidráulicas, limpeza geral, reservas, manutenção de elevadores, freezers, fornos...

Folha de pagamento, recebíveis, impostos (argh, ele odiava os impostos), pagáveis, depósitos, retornáveis, saques, clientes, reclamações, estornos e transtornos.  

Seguranças, ascensoristas, recepcionistas, manobristas, garagistas camareiras, garçons, cozinheiros, jardineiros, serventes e técnicos diversos num vai e vem  infernal e sem fim.

Ao cair da tarde, enfim, ele se encolhe e se recolhe aos seus modestos aposentos. Do glamour e agitação do dia, para o despojamento e o sossego concentrados em poucos metros quadrados à noite, numa transformação radical. Quem diria ser ele tão simples assim.

Que pensamentos ocupariam sua mente nesses momentos de clausura? Que planos estaria traçando para seu futuro? Quem sabe...

Na manhã seguinte, seu segundo dia no hotel, já chegou ao trabalho de paletó e gravata. Delegou funções, fez algumas ligações pessoais, contatos. Reservou um apartamento em local discreto para si próprio. Tinha esse direito como gerente. Lá poderia tomar um bom banho com privacidade e descansaria da labuta nos raros e rápidos momentos em que fosse possível.

No terceiro dia, já com o responsável por cada tarefa devidamente designado, ficou mais livre para “administrar” seu tempo, e visitou seu discreto apartamento pela primeira vez. E pela primeira vez recebeu visitantes particulares. Tapinhas nas costas, saudações, sorrisos, telefonemas, e lá se vai ele, ao fim da tarde, para seu refúgio franciscano.

O quarto dia foi o primeiro de uma nova rotina: hotel aos cuidados dos comandados, livre para tratar de “outros assuntos” com os visitantes de seu discreto apartamento. E assim foram os outros tantos dias que se seguiram a esse.

“Mas, e o hotel, como fica?”, perguntariam vocês. “Ora bolas! O hotel que se dane!”, responderia ele, arrogante, sem lembrar que ao cair da noite, toda noite, voltaria a ser ninguém novamente.    


*Pedro Altino Farias, em 26/11/2013
Engenheiro Civil - Cronista - Blogueiro

Titular da Cadeira de nº 16 da ACLJ

terça-feira, 26 de novembro de 2013

CRÔNICA DE ADÍSIA SÁ


Bom dia Rainha,

Você sabe de uma coisa, Maria Luíza, eu nunca fui rainha de nada, não sei, portanto, o que é dormir, acordar, falar e pensar como soberana de qualquer coisa. Mas, não invejo o destino das majestades, nem mesmo das figurinhas de papel colorido. Porque o peso da vida já é cansativo, imagine acrescido de um título, seja real ou imaginário, temporário ou permanente.

Sempre me acostumei a vê-la, Maria Luíza, no alto de sua fleuma, sempre segura de si, impenetrável e altiva. O magistério não nos aproximou, a despeito de lecionarmos no mesmo colégio. Ficamos distantes uma da outra, muito embora as classes fossem vizinhas e as matérias presas pelo raciocínio e a lógica.

Assim mesmo eu acompanhava com simpatia o seu caminhar pelos corredores do Justiniano de Serpa e sentia prazer – nunca rancor ou despeito – em sabê-la estimada pelas meninas do primeiro ciclo. Você sempre figura na lista do professor mais querido do Colégio.

Havia razão para ser assim: você trás na estampa a linhagem de que descende, e a segurança que transborda de seu ser contagia, penetra até mesmo nos mais velhos. Como eu, talvez. Tudo isto que disse agora, com um pouquinho de orgulho – por senti-la mais minha do que dos companheiro de profissão – me veio ao pensamento quando soube que seu nome figurava como candidata à Rainha da Imprensa.

Não vou negar: surpreendi-me com o fato. Tinha você tão trancada no seu mundo interior, tão isolada dos demais, que nunca pensei em vê-la um dia compartilhando de uma ansiedade comum a jovens de sua idade: “Vitoriosa ou não?
  
Você ganhou. O cetro é seu. A felicidade é nossa. Tenho confiança em você, Maria Luíza, e sei que o nome da minha entidade – a ACI, está em mãos equilibradas e serenas. Você não pode sofrer oscilações, não pode passar por indecisões, não será alvo de inquietações e dúvidas. Você é perene demais, Maria Luíza, para deixar de ser uma grande Rainha.

E disto nós precisamos. Há tanto que fazer, menina, tanto, que só vendo. Palavra de honra: cheguei a acordar várias vezes pensando: “Quem será a nova rainha? Será que as coisas não serão adiadas? Existirá um agora na vida da futura soberana da Imprensa?”

Sabe por que eu me fazia estas perguntas? Porque amo a ACI, como amo a Gazeta, como amo a Imprensa. Será mal de solteirona? Mas eu fui mais jovem e foi na mocidade que esse amor nasceu.

Por amar tanto a ACI, o meu jornal, a Imprensa, é que eu espero e confio em você, Maria Luíza. Não penso em decepções. Não acredito em belas iniciativas, grandes movimentos, monumentais campanhas. Você é perene, moça, e é capaz disto. Não me decepcionarei e comigo toda a classe.


Publicado por Adísia Sá na coluna Canto de Página, no jornal Gazeta, em 1962   quando a jovem professora Maria Luíza Chaves, neta do Barão de Camocim, foi eleita Rainha da Imprensa, na ACI. 

A futura Dra. Maria Luíza viria a fazer parte do Secretariado do Governo Ciro Gomes.


domingo, 24 de novembro de 2013

NOTA ACADÊMICA

IVENS DIAS BRANCO NA ACLJ

No próximo dia 12 de dezembro, às 19:00h, no auditório da Associação Cearense de Imprensa (ACI), a Academia Cearense de Literatura e Jornalismo (ACLJ) promoverá a sua 2ª Assembleia Geral Ordinária Anual.

Durante a solenidade, tomará posse na dignidade de Membro Benemérito da entidade o empresário Ivens Dias Branco. O título de benemerência é o mais elevado laurel da ACLJ, destinado às maiores personalidades do Ceará contemporâneo.

Após a solenidade, o novo acadêmico receberá os seus confrades e os seus convidados para um coquetel no terraço do Edifício Perboyre e Silva, em que funciona a ACI.


Durante o coquetel, a empresa M. Dias Branco, que comemora 60 anos de existência sob o comando do homenageado, brindará os convivas com um show do cantor e compositor romântico cearense Evaldo Gouveia, que é membro titular da entidade – dentre outras atrações musicais.
  
Os organizadores do evento farão alugar um estacionamento coberto próximo ao local da solenidade, embora haja muitas vagas nas ruas do Centro no horário noturno, que terão seguranças particulares contratados. 

sábado, 23 de novembro de 2013

ARTIGO

DILEMA JORNALÍSTICO 
Por Reginaldo Vasconcelos*

Antigamente, jornalista era quem produzia notícias, artigos e crônicas de cunho autoral para serem publicadas nos jornais, alguns dos quais passavam a divulgar suas matérias pelo rádio, em caráter editorial, ou então assinados com nome ou pseudônimo oficial do redator.


Os donos e os gráficos dos periódicos, e os operadores de som das emissoras, a princípio não alcançavam o status de jornalista, que comportava apenas os repórteres, geralmente jovens “focas” que cumpriam as pautas, cobrindo política, polícia ou futebol, às vezes figurando como enviados especiais ou correspondentes de guerra – e articulistas de mais prestígio que pautavam a si mesmos, frequentando certos meios e divulgando sociedade ou exprimindo opiniões políticas pessoais.


Deste último extrato surgiram os primeiros assessores de imprensa e jornalistas “chapa-branca”, todos assalariados por entidades não jornalísticas, os quais, mais do que transmitir notícias, passavam a porta-vozes de instituições e autoridades, difundindo notas oficiais, bem como oferecendo versões e desmentidos sobre informações adversas ao seu empregador, tornadas públicas pelas empresas jornalísticas. 

Todas essas pessoas que ingressavam ainda jovens no jornalismo eram a princípio naturalmente selecionadas entre os melhores estudantes, gente oriunda das boas escolas públicas, dos melhores colégios de padres, às vezes dos seminários católicos, que portanto escreviam bem, haviam estudado latim e conheciam o idioma. No âmbito local, esse era o caso de um Perboyre e Silva, de um Jader de Carvalho, de um Cid Carvalho, de uma Adísia Sá, de um Blanchard Girão, de um Ciro Saraiva, dentre tantos.
Destes todos, somente iam para o rádio os oradores mais fluentes, de timbre agradável e perfeita dicção, voz bem impostada e califásica. 

Uma vez fixados na profissão, isso equivalia a ter curso superior, embora uma boa parte tivesse realmente formação universitária, geralmente em filosofia ou em direito.

Nesse tempo se entendia que a função da mídia, a par de difundir verdades fáticas, era promover a cultura e a virtude, de modo a influenciar o público no sentido de valorizar o humanismo, difundir conhecimentos gerais, a boa conduta social e a melhor ética  pública.

Claro que já havia também a chamada “imprensa marrom”, composta por jornais e jornalistas que, para garantir audiência, praticam a mentira e o sensacionalismo, e que dedicam sua “pena” eloquente a políticos desonestos e a causas menos nobres, ou vendem seu silêncio a autoridades que queiram barrar especulações e ataques à sua reputação política ou administrativa duvidosa – e são por eles achacadas.

De todo modo,  do início do século passado até os anos 60, o jornalismo era uma atividade edificante e distinta, e os jornalistas compunham uma classe profissional diferenciada, sem fortuna financeira, mas de enorme prestígio social.  


Eram recebidos e festejados por grandes políticos e empresários, tinham acesso franqueado a eventos públicos e privados, eram agraciados com “permanentes” para frequentar clubes sociais muito fechados, e eram especialmente temidos pelos poderosos que tivessem qualquer “rabo de palha”.  


Foi o tempo áureo em que entidades de classe como a Associação Brasileira de Imprensa e a nossa ACI foram fundadas e reinaram no Brasil. Mas, com o advento da televisão, o jornalismo impresso foi perdendo força e a atividade radiofônica foi se banalizando e perdendo qualidade, enquanto concessões públicas para a instalação de emissoras de rádio e TV se tornaram moeda de troca na grande politicagem nacional. Os programas da radiodifusão foram sendo entregues a apedeutas e a tatibitates, microfones e colunas de jornal abertos a quem não sabia falar nem escrever.


Houve então uma absoluta inversão da função da mídia, em relação à sociedade, cujo fito, até então, era informar a realidade ao grande público, procurando elevar o padrão cultural do povo por meio de um entretenimento mais erudito e refinado.

Entretanto, ao invés, o jornal, o rádio e a televisão passaram a descer ao nível das massas incultas (mesmo processo sofrido pela música popular), numa guerra insana por leitorado e audiência a qualquer custo, às vezes em busca de consumidores de varejo, de fieis ou de eleitores – à medida que a evolução econômica do País ia elevando o poder aquisitivo das pessoas, muito antes de lhes propiciar melhorias de intelecto e educação.

Instalado esse quadro sombrio, o sindicato da classe resolveu trabalhar pela regulamentação oficial da profissão, e com a criação dos cursos superiores de jornalismo se pretendeu que o diploma universitário específico passasse a ser requisito indispensável para o registro profissional no Ministério do Trabalho, e, consequentemente, para o efetivo exercício da profissão – tudo numa tentativa de recuperar a boa qualidade da imprensa nacional.

A intenção era boa, mas o resultado foi funesto. Durante uma longa batalha jurídica, por força de liminares,   muitos jornalistas vocacionados foram impedidos de trabalhar, e muitos bons redatores, à míngua do diploma de jornalista, foram proibidos de publicar sua produção.

Finalmente o Supremo Tribunal Federal entendeu que, em nome da liberdade de expressão, o “canudo” universitário, e  mesmo o registro profissional de jornalista, não poderão ser exigidos a quem pretenda militar na profissão.


Hoje a DRT ainda concede o registro de jornalista a quem comprove ter cumprido meramente o ensino médio, e o sindicato da profissão ainda exige o diploma de jornalista para fazer a inscrição de afiliados – muitos dos quais não têm vocação nem absorveram, de fato, os conteúdos do curso superior que concluíram. 


Então, afinal, o que é um jornalista atualmente? Quem tem um diploma na gaveta, ainda que sem interesse, e sem vocação ou capacidade intelectual para produzir textos, ou para obter e transmitir informação? Ou jornalista é aquele que adquire espaço na mídia, através de igrejas ou de produtoras independentes de conteúdos, somente para mistificar e ganhar dinheiro? Ou jornalista é quem obtém um contrato de trabalho com uma empresa jornalística? Ou seriam somente os que se institucionalizam e exibem uma carteira sindical?  


Não importa mais. Hoje, por meio da Internet, da sala de casa, pessoas de quaisquer ofícios podem obter mais audiência para seus blogs, em âmbito mundial, que um festejado jornalista das revista Época ou Veja, ou do Sistema Globo de Jornal, Rádio e TV – grupos empresariais nacionais que ainda representam polos de excelência em comunicação neste País. 


Para a ACLJ, jornalistas são – além dos consagrados luminares do  jornalismo tradicional cearense – os notórios formadores de opinião em geral, e os intelectuais que produzem a chamada "literatura ligeira", em qualquer de seus suportes e linguagens, desde que em bom português: a crônica, o conto, a resenha, o ensaio, a sátira, o documentário, a charge, a reportagem, etc. 
      
*Reginaldo Vasconcelos
Jornalista e Advogado
Titular da Cadeira de nº 20 da
ACLJ  

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

CRÔNICA

CARREGADOR DE MELANCIAS
Por Vianney Mesquita* 


Em enunciado interessante, Rui Esteves RIBEIRO de Almeida COUTO (Santos, 12.03.1898; Paris, 30.05.1963) expressou este pensamento: “Todas as viagens são lindas, mesmo as que fizeres nas ruas do teu bairro. O encanto dependerá do teu estado d’alma”.

Carregadores de Melancias, do piauiense e admirável escritor de Sagandina, Augusto Rocha, encerra, permutatis, permutandis, essa ideia do jornalista e diplomata santista, pois perseverante no seu continuamente alevantado estado de espírito. Não somente pelas jornadas nas vias do seu bairro, mas também pelo Brasil afora – e até pelo Polo Norte – o autor realiza maravilhosos périplos na sua montaria de “aço” (acompanhado de um pugilo de amigos de naipe igual ao seu), dos quais aufere para a literatura deliciosas passagens, contadas com a sedução e o encantamento de quem é senhor da habilidade de narrar.

Com recorrência, expresso a ideia de que não me afiz, de estudo, adiantar lances acerca do que comento para quem ainda não experimentou a ventura de deparar uma obra de qualidade, ou mesmo experienciou o infortúnio de se haver com um escrito medíocre, insosso e desenxabido, a fim de lhe não suprimir o ânimo da leitura.

De efeito, sem dizer do entrecho maquinado, antecipo, entretanto, o fato de que a excursão empreendida por Augusto Rocha, Sáris Pinto e seus companheiros foi daquelas cujos protagonistas, antes de a terem efetivado, poderiam haver concedido audiência ao grandioso Johann Wolfgang Goethe (Frankfurt-Meno, 28.08.1749; Weimar, 22.03.1832), na ideia de que, para se entender que o céu é azul em toda parte, não é preciso percorrer o Mundo.

Vai ter ciência o leitor das jornadas de um quase padecimento dos excursores motociclistas, ao arrostarem dificuldades de muitas sortes, com raros ou nenhum momento de aprazimento e júbilo, circunstâncias demarcatórias do status de uma boa viagem de férias.

A desventura, porém, costuma representar o trampolim para o gênio, repositório para o homem destro, com estado d’alma alevantado, consoante sugeriu Ribeiro Couto, no início mencionado.

E eis, pois, este escrito narrativo do passeio – longo e remoto – de um grupo em sofrimento de férias, expresso na fecundidade de um Português bem tratado por quem lhe conhece as regras de compor com graça e vigor, da parte de um narrador ilustrado acerca das técnicas e ambages desta língua onde estão contidos “o trom e o silvo da procela”, bem como “o arrolo da saudade e da ternura”. (Bilac).

Augusto Rocha – o qual se acompanhou de Sáris Pinto e demais corajosos viajores – é um “carregador de melancias” de alto padrão comunicacional e literário, no mesmo grau de quem domina a motocicleta e sabe consumir de bom grado o cansaço físico e absorver o abatimento anímico, para depois, uma vez digeridos, trazer esta peça lítero-narrativa de valor inquestionável, quer sob o espectro da contagem da história ou no referente a tornear com exatidão e minudente grau de detalhamento.

Mais um livro de qualidade aufere a historiografia motociclística brasileira, com o sinete de um produtor sazonado na constância de suas viagens e no exercício de sua pena, transmudada, por enquanto, no teclado do computador.

Isto significa regozijo no Ceará culto e gáudio para o Brasil ilustrado.

Fortaleza, 25 de outubro de 2013.

*Vianney Mesquita
(Docente da UFC, jornalista e escritor.
Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa e da
Academia Cearense de Literatura e Jornalismo).


NOITE DE AUTÓGRAFOS

OS INTELECTUAIS

O Professor Rui Martinho Rodrigues, Presidente da ACLJ, lançou mais um livro neste dia 20 de novembro, no Espaço O Povo de Cultura & Arte. O livro tem um título instigante – Os Intelectuais – tema que ele disseca na obra com inusitada perspicácia. 

Rui Martinho Rodrigues, que é lente da Universidade Federal do Ceará, se graduou em Odontologia na juventude, formando-se depois em Administração e em Direito, com mestrado em Sociologia e doutorado em História. Tem uma extensa produção acadêmica, e muitos livros publicados.

Ainda assim, o Presidente da ACLJ costuma rejeitar o rótulo de “intelectual” – talvez fugindo do estereótipo modernoso segundo o qual, para se adequar a esse perfil, o indivíduo precisa ser militante de esquerda, canabista diletante e sexualmente alternativo.

Brincadeiras à parte, o Prof. Rui analisa no seu livro, com percuciência e seriedade, essa classe dos detentores do saber – os escribas, os letrados, os peritos.

Talvez se possa dizer que os intelectuais sejam aqueles que processam todas as informações recebidas para chegar a conclusões originais, e que, além disso, têm pleno domínio da palavra.

Reginaldo Vasconcelos 

domingo, 17 de novembro de 2013

ARTIGO

PRESOS POLÍTICOS
Por Reginaldo Vasconcelos*



Ao se apresentar à prisão na Polícia Federal na data de ontem, José Genoíno levantou o punho fechado, em épica atitude de resistência ideológica, e disse se considerar “preso político”. Alguns mais açodados se apressaram a desmenti-lo.

Claro que ele quis dar ao termo a conotação tradicional de injustiçado, tentando se confundir com os militantes que são reprimidos pelas ditaduras por meros “delitos de opinião”.

Mas, para mim, em certo sentido Genuíno tem razão: ele, como os demais petistas envolvidos no escândalo do chamado “mensalão”, uma vez condenados, se tornaram presos políticos, stricto sensu.

Toda a ala de políticos do partido do governo, corruptores de banqueiros e de parlamentares do Congresso Nacional, delinquiu politicamente, pois tudo o que pretendiam era obter dinheiro com aqueles para comprar o apoio destes a tudo que fosse do interesse do Palácio do Planalto.

Se é assim, assiste razão a José Genuíno ao se declarar preso político, condição que, neste caso, não o torna um inocente pensador que contrapusesse ideias revolucionárias ao poder constituído. Não. Ele e os demais petistas se encontravam no governo quando foram pilhados desviando dinheiro público para o seu projeto de poder. Ação política, mas absolutamente criminosa.


Os componentes dos núcleos publicitário e bancário da quadrilha, estes estavam agindo por interesses econômicos, em prol de seu próprio enriquecimento, sob o pálio protetor da Presidência da República, por meio do então super ministro Zé Dirceu. Sequer eles se sentiam desonestos, porque tudo era ungido de legitimidade pela expressão “questão de Estado”, utilizada para convencer um “laranja” a confirmar a mentira oficial, no caso dos dólares na cueca.       

Segundo Genuíno, que assinou contratos fraudulentos para forjar empréstimos bancários e mascarar triangulações financeiras, ele teria sido injustamente condenando pelas elites nacionais.

Ora, faz dez anos que   
as elites nacionais se integraram às hostes do governo a que ele pertencia – e não há maior representante da elite política que o Senador José Sarney, nem maior representante da elite econômica que o empresário Eike Batista, ambos absolutamente alinhados com a política situacionista. Então, a que elites Genuíno se refere?

Ao contrário, os algozes dos “mensaleiros” foram um membro da quadrilha, o então Deputado Roberto Jefferson, frustrado na partilha do butim, depois dois procuradores federais cearenses, nenhum deles comprometido com forças políticas locais ou nacionais, e por fim o Ministro Joaquim Barbosa, um negro de origem modesta, “sem parentes importantes e vindo do interior”, nomeado para o Supremo Tribunal Federal pelo petista Presidente Lula.


Sim, José Genuíno é um preso político. Bravo militante da situação que tropeçou nas manivelas da maquina pública. Foi esmagado pelas engrenagens criminosas do governo petista, que ele mesmo ajudou a eleger. É uma irônica fatalidade.

*Reginaldo Vasconcelos
              Jornalista e Advogado
         Cadeira nº 20 da ACLJ    

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

POEMA DE NATAL

A ALMA DA ALDEIA
Por Luciano Maia*
Em  Fortaleza, 13 de novembro de 2013  




                      
      Eu creio que a Eternidade nasceu na aldeia.
                                                               Lucian Blaga

Enquanto o céu de noite se vestia
a lamparina, dentro da cabana
tentava prolongar o fim do dia
por trás da porta tosca de umburana.
A lua é outra mágica alegria
ao despontar soberba e não engana:
a noite na colina se anuncia
e sobre a aldeia paira, soberana.
Chegou o Natal; da pobre manjedoura
sem ornamentos, pois que de verdade
sob o luar, que a envolve e doura
se escuta um choro, quase alacridade...
A alma da aldeia em prece, qual se fora
dela nascida a própria Eternidade!

 *Luciano Maia
Professor - Poeta - Cônsul da Romênia em Fortaleza
Titular da Cadeira de nº 8 da ACLJ